sábado, setembro 30, 2006

CLUBE DOS PENSADORES

(Texto publicado no Clube do Pensadores)

Como acabamos por conhecer pessoas, que correm pelo mesmo “rio”…

Ora bem, há uns tempinhos, passava em revista os “blogs” que iam correndo, e vi um que me chamou a atenção – CLUBE dos PENSADORES. Daí a ir até lá, foi um saltinho de pulga e o que se deparou, foi algo excitante: pensadores a sério. Como não estou muito habituada a que pensadores andem por aí aos pulos, li atentamente o que estava escrito. Inteligente, expressivo e significativo. Decidi congratular-me por tal achado e escrevi uma frase insignificante, que deu azo a um posterior vai e vem de leituras e comentários, que muito me honram e envaidecem, porque numa sociedade em que cada um pensa só em si, verifico que há mais alguém a tentar divulgar certas “anormalidades” que devem ser corrigidas na nossa sociedade, sem que isso seja para lhe dar estatuto ou protagonismo.

Depois veio a informação sobre debates e eis que logo o primeiro me encheu de curiosidade uma vez que a tal cidadania é muito falada, mas muito pouco praticada…

Vão seguir-se debates, em que se abordará a mulher inserida na sociedade actual e então fiquei mesmo curiosa e cheia de vontade de que não se esqueçam que a mulher, muito embora já marque a sua posição, continua a ser muito vítima de tempos idos – vão passar umas boas décadas, para que se modifique esta forma, ainda muito ligada a tempos passados. Talvez começar por explicar bem, que violência, pode ter o seu patamar de entrada na violência conjugal e daí em diante, será um escorregar de violência em violência, não esquecendo que violência, não é obrigatoriamente pancada.

A questão da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, com a qual estou plenamente de acordo, fez subir ainda mais o meu entusiasmo com o Clube, pois apercebo-me que se vão tratando de assuntos, que para este grupo de pessoas não é tabu, nem lhe põem uma capa, para fazer de conta que está tudo bem. É importante mentalizar, que despenalizar não é provocar algo que passe a ser corriqueiro, mas sim evitar, que tantas mulheres morram, vítimas de aproveitadores da situação.

Quanto a um texto sobre o preço de livros e material escolar, devo acrescentar que, os nossos livros sempre foram caros e um pouco assimétricos em relação aos bolsos dos nossos progenitores, mas daí a fazerem-se notícias e notícias sobre isso, vai uma grande distância… devíamos começar por divulgar, por todos os estratos sociais, a Pirâmide de Maslow. Parece-me que nem toda a gente sabe o que é… sobretudo que dirige.

23.09.06
isabel

sábado, setembro 23, 2006

FRAGMENTOS DO PENSAR


Quando nos sentamos a uma mesa, com papel e caneta e tentamos auto-analisarmos os acontecimentos dos últimos dias, constatamos que inconscientemente nos haviam passado despercebidos alguns momentos agradáveis, para apenas nos centrarmos naqueles que nos deixaram um traço de azedume e angústia.

Retrospectivando esses dias inobservados que nos propusemos analisar, sentimo-nos cobaias de nós próprios e mais do que tudo, tentamos fazer reviver os tais mais esquecidos momentos, para readquirirmos o prazer que tivemos, breve que tenha sido. Persiste, contudo, muitas vezes a ansiedade que começamos a sentir, proveniente de uma má frase, de um diálogo abespinhado ou de uma dúvida instalada, causadora de instabilidade, insegurança e consequente baixa auto-estima.

Se o esforço de recordar os momentos agradáveis, for um mecanismo de defesa contra a depressão, frustração e baixa auto-estima, então, como cobaias de nós próprios, estamos a arranjar solução para os problemas que nos afectam.

Quando deixei o meu pensamento começar a percorrer este caminho de ideias sobre o meu permanente estado de angústia, nem havia admitido que este estado estava ligado à realidade existente.

Há realidades que existindo, não existem. Não fora um amigo abordar um determinado assunto comigo, deixando-me ver o que eu, embora com todos os interruptores não vira, porque não acendera nenhum, deixando-me numa completa escuridão.

Quando o meu amigo me disse que temos sempre uma escada para subir ou descer a outro piso e que apenas a nossa vontade nos faz subi-la ou desce-la… mas abordámos os condicionalismos que nos levam a não passarmos de um para outro degrau… Então fez-se a tal luz do outro lado e percebi que muitas vezes sem sentir, os desejos insatisfeitos são a razão das tais ansiedades, das fobias e não só, mas também o fazer prevalecer algo que jamais se verificará – dar vida a quem já não a tem… e apenas dezasseis degraus podem ser a distancia que me separa da tal luz que sempre esperei acender, sem me atrever a chegar ao interruptor…

Continuando a vaguear por todos estes pensamentos, mais me apetece concluir que actuo com uma falsidade imensa, quando estou a transmitir força a quem a não tem, quando estou a injectar alta auto-estima, quando a procuro em mim e não a encontro…

06.09.06

sábado, setembro 02, 2006

NA ESTRADA


Meti-me no carro. Deixei-o trabalhar a seu ritmo e fiz-me à estrada. Estreita e muito arborizada, com as bermas mal estimadas e com curvas acentuadas. Conduzi.

Deixei que o CD corresse no seu receptáculo, transmitindo sons melodiosos do “Alegro moderato” de Peter Tchaikovsky.

Cada árvore parecia uma viúva. Pareciam todas negras e solitárias, como que abandonadas. Eu era mais uma, mas conduzia. Conduzia. Ora aumentando a velocidade, em rectas, ora muito devagar, se as curvas se sucediam.

Os momentos pareciam eternidades e com o depósito cheio, nem me lembrava que havia de precisar de mais combustível.

Olhos meus, que nem sei se viam estrada ou se viam um prolongamento do manto negro que me cobria.

Nunca entendo se estou triste, se cheia de medo. Por isso vou acelerando, mas mais uma curva e muitas árvores de ramos erguidos, como que pedindo auxilio, mas a quem? Se todas estão perto e tão longe umas das outras?... Parecemos nós. Estendemos os braços, mas nunca se tocam as mãos… olhamo-nos nos olhos e não conseguimos ver-nos. Pensamos no mesmo e jamais encaramos a realidade.

Aquele choupo enorme, com um ar tristonho como o de um cipreste, pareceu-me dizer algo. Abrandei. Parei na berma, porque não havia nenhum precipício e podia encostar, sem prejudicar quem quisesse passar… mas na minha estrada não passa ninguém.

Era esse o desabafo?! Somos velhos troncos ressequidos, por uma idade não contável, à beira de uma estrada, que não sabemos onde vai dar… uma estrada sem uso, esquecida. Abandonada com as suas próteses e maleitas, que afugentam os jovens, porque passamos a meter nojo… uma estrada solitária e abandonada.

Na verdade, não há marcos nem painéis, a referir a próxima localidade. Não há semáforos para controlo da velocidade e com as bermas tão mal estimadas e em alguns sítios com os capins a invadirem o asfalto, muito esburacado, parece uma estrada para o fim do mundo…

Mas onde fica o fim do mundo? Além, muito além no horizonte a perder de vista, sempre com esta serpentina negra em frente, conduzo. Estreita-se a serpentina negra frente à minha vista atenta, porque há mais buracos… e sinto-me num baile de máscaras no fim do mundo, onde tudo é preto, não faltando as serpentinas pretas, como aquela por onde vou conduzindo, rumo ao fim do mundo. Afinal para ir a um baile de máscaras…

Não quis nada. Não pedi nada. Dei.

Dei tudo: a liberdade, o amor, os bens materiais, a alegria - a vida. Mas apenas me deixaram a estrada estreita e esburacada, ladeada de árvores tão negras quanto eu e tão velhas que como eu, que para nada vão servir, a não ser para arderem um dia destes, se algum pirómano se sentir feliz a ver as labaredas consumindo estas velhas tontas, que imaginam que ainda têm direito a olhar o sol por entre alguns ramos que vão mantendo viçosos…

As curvas lá à frente são bem apertadas. Desta vez vou pôr o pé no acelerador. Vão ver como sou perita. Ainda tenho mão no volante. Conduzo com prazer. Mas desta vez vou mesmo acelerar, para morrer.


02.09.06