domingo, dezembro 30, 2007

VERDADE

Sem poder esperar mais... assim fiquei esperando o teu nada...
Muito melhor 2008!
Que ninguém espere em vão! ... ... ... ...

30.12.07
(a foto foi vista e roubada por aí, nem sei onde...)

quinta-feira, dezembro 27, 2007

O QUE NOS DEIXA A MEMÓRIA


Há datas que nunca esquecemos. De uma maneira ou de outra acabamos por as recordar, mesmo que tivéssemos prometido a nós próprios que jamais as iríamos relembrar…
Claro que não é o facto de ser o dia do teu aniversário que está em causa. Sempre foi um dia que foi lembrado com emoção e ao qual foram dedicados certos rituais, como se estivesses mesmo ali ao lado…
O que me faz nem querer voltar a pensar, nem na data, nem em ti, é a revolta que sinto por todos aqueles eventos que viveste e escondeste, fazendo protagonista de toda a aventura a única pessoa que pensei jamais ser capaz de o fazer… não sei como vos tratar – traidores!!!
Como tinhas coragem de ir jantar o tal “cabritinho à padeiro” sabendo que eu tão longe, sofria como que cumprindo uma pena, completamente inocente?! A sonsa ainda tem coragem de contar, com requintes de malvadez toda a trama das noites bem passadas… nem tenho palavras! Aliás, acho que o ódio tira o dom da palavra… e até do pensamento…
Não contente com a festa, sem respeito pela debilidade do momento, ainda um ou uma idiota bate à porta, em tons deselegantes, manda que abra, para uma visita… à hora do jantar, atender distribuidores de religiões empacotadas em brochuras para descobrir a paz… a fé!!! Depois do “cabrito à padeiro”, em São Pedro de Sintra!!! Já não há mais nada!
Fica na memória, destruindo todas as outras memórias, o que me destrói todos os dias… porque a provocação continua, num descarado atrevimento…

27.12.07

quarta-feira, dezembro 26, 2007

NO DIA 25 DE DEZEMBRO


Interrompi o meu silêncio com a palavra que se soltou do mais profundo do meu ser e quase sem controlo, não a consegui calar. Foi um lamento, foi um suspiro de dor… foi talvez uma revolta que se soltou do mais profundo da minha alma… Foi sempre a mesma coisa!
O pretexto soltou-se como uma baforada de fumo e ardilosamente arranjaste forma de ir satisfazer o teu capricho… diria os teus caprichos… mentira, cifrões e mais caprichos e mais mentiras… O sol encanta e dá brilho às pétalas das flores e vives dos encantamentos fictícios… enganando quem? A cigarra ou a formiga?
Nem no tal período que diziam ser de Amor (Natal!) ….
Como és a imagem da falsidade! Teatro. Faz de conta… um papel muito bem interpretado.
Vou rir! Que lata! Vieram então as prendinhas para enganar… sofisticadas formas de gostar (?) …. Merda!!! Que lata!!! Entretanto quem vai usufruindo das ternuras e das delicias… é?! São!!!
Um colar de pérolas! (Claro que são as minhas lágrimas solidificadas…) Luvas! Mas para quê, um par de luvas, quando agora nem posso sair… E será que lhes vou dar uso?
A contagem decrescente já começou há muito. Mas nem isso promove um gesto de humanidade e pões de parte todo esse calculismo de superioridade…???
Os medicamentos estão a actuar perfeitamente. Já não há temperatura e abrandou a instabilidade… mas o problema subsiste… o que será? Novos exames efectuar-se-ão na próxima semana, até lá aquela dúvida vai brilhar como brilha a estrela da tarde…
Mas quase me esquecia de ti! Estás a ver, como esta porcaria de doença, que nem sequer sei o que é, me faz esquecer de ti. E será que mereces mais do que isso? Também nunca gostaste de mim como eu gostei de ti… mas agora também é tarde. Nada merece a pena, quando as dúvidas são a almofada onde deitamos o rosto todas as noites, sem sequer saberemos se haverá a manhã seguinte…
Com o anoitecer verifico que vai finalizar mais um dia 25 de Dezembro, e que mais um dia de Natal é mais um dia de um calendário, que os Homens criaram, para os Homens… e que não é senão um dia vinte e cinco, como todos os outros dias vinte e cinco que cada mês tem… e a verdade é que apenas há um dia vinte e cinco em cada mês…tal como eu sou eu só, em cada dia de cada mês…
Não te angusties. Não fiques sob frustração… afinal nunca me pediste para que gostasse de ti…

25.12.07

segunda-feira, dezembro 24, 2007

24 DE DEZEMBRO


O toque da campainha faz pressupor que é alguém. Tento perceber pelo megafone de quem se trata, mas nada. Abro a porta e parece-me que rostos conhecidos transpõem a porta mas não sei bem se sou eu que entro, se são outras pessoas que entram e passam, sorridentes. Não são ninguém. Ou serei eu que não sou ninguém?...
Por hábito, por maneira de estar, por razões que a razão não permite perscrutar, estou normalmente só e às vezes, como agora, se tenho gente por perto, não sinto as presenças… são fantasmas vivos de uma existência morta.
Há ruídos que se parecem com vozes, há ruídos que parecem sorrisos… mas onde estão aqueles que dão origem a estes sons?
Entre as vozes parece que a tua, sorridente e algo irritante, sobressai. Sob uma excitação que não é muito comum (excepto nas ocasiões de que falaste), mostras a tal faceta eufórica de quem está bem nutrido por dentro e por fora… Foi isso! Aliás, não era nenhuma boa nova, porque já o havias explicitado…
O tilintar dos copos, o “trique-traque” dos pratos e dos talheres deixa que perceba que há muita gente na sala… “Quer dizer, estive a fazer tudo isso para essa gente toda!” Estranho. Estou mesmo só. Ninguém é ninguém e tu és menos tu do que alguma vez foste… Pois sempre percebi que eras uma bela marioneta colorida nas mãos de um habilidoso artista de circo…
Mais toques de campainha… mais fantasmas!? Mas que me querem, se estou só e com todos à minha volta, só fico?!...
Não é o facto de ser só, que é triste e por isso o dia 24 de Dezembro, não é o especial dia para estar triste… estar triste é uma componente dos dias todos do ano e dos anos, desde que se começa a perceber que nada tem o significado que se quer mostrar que tenha.
Claro que me recordo da minha avó. Claro que não esqueço os meus pais… claro que não esqueço amigas, especialmente a Manela. Claro que não esqueço os amigos, especialmente o Artur José. Claro que tenho uma raiva imensa por não ter esta gente todo ao pé de mim… mas tudo é o que tem de ser… O Zé, que ocupou um lugar especial, naquele ano trágico… a Isabel, que era de loucos as nossas conversas sobre Antropologia… e todos os que já partiram… não chegam para o lanche… nem para o jantar… nem nunca mais… partiram para que eu ficasse só.
Depois, aparecem algumas “almas penadas”… a fingir que são muito “queridos” mas com o pensamento em outros…. E eu só! (!!!)
Mas nada significa nada, porque o estar só é uma forma de estar, que é o oposto de estar acompanhado… e mais vale só do que mal acompanhado… porque a tua companhia passou a ser um nojo… mesmo no dia 24 de Dezembro…

24.12.07

sábado, dezembro 22, 2007

A VOZ INTERIOR


Pouco tenho escrito de raiz. Concluo alguns textos que, como sempre, por múltiplas tarefas, vou deixando a meio. Mas agora é no todo dos todos que vão saindo todas estas palavras. Desabafo? Lamento? Não sei, apenas sei que se não escrever fico entupida e quase rebento entre os soluços e as lágrimas e os gritos que morrem na garganta e não saem senão nestes suspiros intercalados com o soluçar…
Amiga, consegui desejar-te boa sorte para o dia importante que é hoje. Não me contive e chorei. Perdoa-me. Sê feliz por favor!
Depois falei com outros amigos. A época é propícia a que se seja gentil e nem em estádios de instabilidade se consegue deixar de cumprir formalidades tão arreigadas nas gentes.
Um dos amigos esteve mesmo comigo, de corpo presente, com um abraço de infinita bondade, dando-me a força que precisava, toda cristal delicado e antigo, que a uma corrente de ar se estava estilhaçando…
E todo o meu interior se estilhaçou. Mil fragmentos de desespero foram uma mão cheia de cacos do que resta das esperanças e dos desesperos que rodopiam por mim toda… e se ainda viver depois de amanhã, talvez possa segredar-te que foste o amor da minha vida…
Injustiça! Logo agora que vivia bastante ocupada, a doença veio dominar como qualquer déspota prepotente, destruindo a coroa de sonhos que deixara na minha jarra eleita…
Quero aquela rosa carmim presa nos lábios, quando selares a minha boca no beijo último, da última despedida…
Ingratidão! Como todo o tempo foi ingrato para mim, não permitindo até que o diagnóstico fosse conclusivo, para que não continuasse neste impasse de vida e o que mais?
Desolação! Sim! No mínimo desolador não ter tempo para te dizer que te amo. Que tudo é teu e o mais insignificante sonho foi contigo…não olhes! Desencorajas-me, muito embora saibas da decisão… ficam todos os silêncios e todas as turbulências consequentes de quem não te sentia, como sempre te senti.
Desalento! Já alguma vez sentiste desalento? É estranho. É algo grande dentro de nós que nos faz sentir infinitamente pequenos e as palavras deixam de ter significado e os significados deixam de ter razão de existir… por isso dizer que te amo é uma anormalidade, uma descomunal anormalidade… a um moribundo, deixa de ter sentido certos dizeres…
Natal!

2007.12.22

sexta-feira, dezembro 21, 2007

A NOSSA NOITE (?)


Deixei que o corpo se confundisse com os lençóis e os edredões, tão acasalado estava um e outros…
Numa semiobscuridade, o quarto mais parecia uma câmara ardente, pronta para deixar entrar os primeiros visitantes do velório.
Os olhos semicerrados, como estreitas gretas de uma gelosia, apenas via imagens ilusórias, como num filme de terror, entre nevoeiros e sombras…
Senti uma aragem correr pelo quarto o que me fez perceber que a greta da porta se alargara e que possivelmente alguém entrara… Mas não ouvi, nem passos, nem quaisquer ruídos… talvez apenas tenha imaginado.
A respiração curta e lenta deixa subentender que há algo que não está funcionando correctamente, num sistema cárdiorespiratório que era pressuposto estar a trabalhar melhor, não fora o estado febril…
Todos os quadros são consequência das febres altas e os consequentes delírios, os do estertor da morte… mas são mesmo delírios?
Alguém se sentou com desmedido cuidado na borda da cama. Senti o deslizar de uma mão acariciante subindo a perna esquerda, muito devagar, deixando o morno calor passar as cobertas e fazer que uma onda de bem-estar acalmasse o estado semidesfalecido em que me encontrava. Afinal estava mesmo à espera da hora em que todas as luzes se apagassem… Vieste?!
E a mão, ou algo que me fez idealizar que o fosse, deslizou mais e mais e parou na face, circundou o desenho esbatido dos meus lábios e num sumido murmúrio deixou que me parecesse estar a ouvir a tua voz.
O delírio da febre? Não! Só podias ser mesmo tu. Para quê? À espera que de vez deixasse de respirar? Calculo! Querias mesmo testemunhar o último suspiro!
Para quê continuas a mentir? Para quê a teatral farsa, mesmo nas horas que restam a quem já nada espera? O baile das carícias com a ignóbil mentira disfarçada de bom momento… Chega! Não quero findar com mais um engano, mais um sonho que nunca foi mais do que um pesadelo…
Parecem lágrimas… mas tu choras? Ironia! Jamais se chora por quem se detesta, ou por quem se satiriza o gostar… Um grande actor faz verdadeiros milagres!!!
Não me olhes como que um arrependido! Não peças mais desculpas! Agora é tarde e nem sei se terei forças para te olhar, pela última vez…

21.12.07

sábado, dezembro 15, 2007

SÁBADO À TARDE


Não sei bem se me apetece escrever, se gritar ou apenas chorar… mas já tenho os olhos inchados e vermelhos de apenas chorar… Aumentou o número de vítimas. E com o arrefecimento previsto, vai aumentar, seguramente, o número de mortos…

São sempre em vão os muitos avisos que se difundem por todos os meios. Uma grande parte das pessoas não liga ao que ouve, ao que lê, nem mesmo quando lhes é segredado que estejam atentos, ligam importância… É mesmo característica do ser humano… depois a catástrofe assola à porta e já pouco resta para ser feito…

Quando nevou, e o frio era intenso, assolou uma tempestade que destruiu todas as belas ramagens da árvore que plantara em meu peito… A Árvore é o símbolo da vida! Foi o princípio do fim…

Despida de folhagens, ramos novos cortados cerce, abria-se assim o vasto horizonte. A perder de vista…

Depois foram reaparecendo os sinais de primavera… mas veio outro Inverno frio e desastroso… e quando uma nova primavera deslumbrava os horizontes da natureza… um vento soprou, nórdico e devastador e as novas ramagens, simbolizando vida, perderam-se… perderam-se uma vez mais…

Está imenso frio. Penso em todos esses seres que vivem à deriva, sem abrigo, sem vontade de lutar por melhores dias ou apenas por um outro dia… perderam tudo, nada têm e por nada lutam… Quantos não são consequência de ser mal amados!... Quantos não são o resultado de uma entrega, de um desvelo por quem nem se apercebeu ou se deu ao trabalho de aperceber que estava a ser amado… Como é difícil fazer o mundo entender que só com amor se consegue ultrapassar as grandes dificuldades. Como se confunde Amor, no dia a dia, com tanta outra coisa que nada tem a ver com Amor…

Mas de mármore cinzento e frio será o tálamo onde vou deixar as poucas gramas de cinza que restarão deste corpo gasto e sem alma, que divagou sem destino, que amou sem amado e das suas rosas foi fazendo um pouco de pão…


15.12.07

sábado, dezembro 08, 2007

Sábado, 08 de Dezembro de 2007

Já lá vai muito tempo que os dias oito de Dezembro eram passados com muita festa. Por esse tempo, era o dia da mãe e nas aulas de lavoures do colégio fazíamos enxovais para os recém nascidos das famílias mais desprotegidas. Também nas aulas de desenho fazíamos quadros para a mãe, invariavelmente Nossa Senhora, com a imaginação que dispúnhamos naquela época. Aliás, o Ramalhão era um colégio de religiosas e isso levava que não se fugisse do tema.

Juntavam-se as mães dos pais, as nossas e nós e havia uma ceia muito animada, com um quadrinho pintado a lápis de cor, quase igual para todas…

Tudo se esfumou no passar dos anos. Hoje nem se fala disso por aí, como se fosse uma passagem tão antiga, como outras, na história da humanidade…

Como estou doente, deu-me para passar em revista partes de um passado, que muito embora não seja assim tão passado, levou-me a outras fases que fui vivendo. Algumas para esquecer. (Esquecer! Isso é que provaria que a minha inteligência estava aferida… )

Depois li uns Bloques. Já não os lia há muito tempo, porque o tempo é sempre limitado, quando se arranjam mil tarefas…
Num dos blogues li um fragmento de texto muito interessante. Até fiquei com a tal ideia de que a “carapuça” poderia servir à medida, a uma das pessoas minhas amigas. Há sempre quem é mais esperto e “nas costas de uns lêem as suas…”

Nada seria devastador se não se usassem terceiros para arranhar e magoar…a tal violência psicológica que tão bem é aplicada, para que o ego seja elevado… A melhor pessoa do mundo! Quem sabe mais! A pessoa mais perfeita! Tudo o resto é por acaso…

Mas eu continuo a insistir que não é justo criar um clima amoroso à volta das pessoas e depois pô-las na lama ou simplesmente ignorá-las. Rejeitar, agredir, magoar, são formas de agir que não aprendi e por isso, não sei defender-me. Sabe-lo bem, assim como o sabia a minha amiga Manela, que tantas vezes me disse que o perigo estava mesmo ali ao lado… Agora que não estou bem, percebo perfeitamente o que ela queria dizer.

Passei pelo arquivo fotográfico e depois ouvi algumas gravações. Engraçado! Como foi possível uma transformação tão radical. Apaguei-as. Para quê continuar a ouvir o que nem sequer foi dito com sentimento… Assim como alguns escritos que havia guardado religiosamente… e neste momento estão no saco para o papelão… Tanta farsa!

Às vezes sinto-me uma perfeita idiota. Outras, sinto uma revolta imensa, outras ainda, tenho uma incomensurável saudade daquele tempo, que no cimo das ameixieiras, fazia competição com os melros lá da quinta…

Já li o livro! Afinal o vilão lá conseguiu embarretar mais uma vítima… Serial Killer! Mas era esperto! Mas não tanto, que se esqueceu que não há crimes perfeitos… a não ser que tivesse tomado o resto do veneno… mesmo assim gostei.

Uma vez mais o pulso subiu aos cento e tal, depois baixou, e voltou a subir aos noventa e cinco… Estranho. Não tenho nada que esteja pendente nem fiz mal a ninguém, nem pus ninguém de parte… muito pelo contrário… até a minha saudade esteve muito no meu pensamento. Sempre devemos respeitar a memória dos que só nos fizeram bem e nunca ousaram fazer-nos sentir uns zeros.




08.12.07

quinta-feira, dezembro 06, 2007

NOITE DE NEVOEIRO

Tanto nevoeiro!
A noite está fantasmagórica. Mais parece que estou numa história daquelas que a minha avó me contava, de cavernas e duendes, que com as suas lanternas de luz periclitante, deixavam desenhos disformes nas sombras.

O dia foi cansativo. Dei as aulas habituais mas tive o grato prazer de reencontrar um jovem colega que não via desde que juntos estivemos numa formação sobre lutos, em que o conceituado Moita Flores, deu uma aula que nunca mais nos esqueceremos. O colega foi substituir um outro que está a doutorar-se em Psicogerontologia.

Mais tarde, depois de retemperar o estômago, pois nem havia almoçado, vim escrever um texto que devia, porque jamais aceito certo tipo de situações e o desrespeito pelo ser humano repugna-me, sobretudo quando se está deliberadamente a amachucar outra pessoa, como fazes comigo… e depois santificas a tua posição de vitima, como a criancinha que vai aos bombons do avô… Como é fácil culpabilizar, quando se quer ser o centro das atenções… mas o dia não acabou por aí…

Não atendi chamadas, porque deixei os celulares no silêncio, como haviam estado durante as aulas… e só reparei que havia esquecido quando liguei a uma amiga para saber do seu caso… não foram os “meus interesses” que levaram a não atender. Só se pode exigir, quando não se falha… Mas no todo, houve algo bom. Uma amiga vai publicar um livro. É uma excelente poetiza e muito humana.

O nevoeiro está ainda mais denso. Fui à varanda e até senti um arrepio… medo? Talvez. Está deveras sinistra esta noite… Se fosse de manhã, esperava que o sol despontasse, porque a minha avó dizia muitas vezes que, “manhã de nevoeiro é tarde de soalheiro…”

E mais uma página do Diário que vou escrevendo, para não falar a sós comigo, nesta noite de nevoeiro, em que os faróis dos carros que sobem a estrada, parecem os olhos dos bois-cavalos, que se atravessavam na picada, quando lhes direccionava os máximos…


05.12.07

sábado, dezembro 01, 2007

ONTEM!


Falámos pouco. O suficiente. Mas falámos. Tão longe mas falámos. Ainda bem que falámos e ainda bem que estávamos longe. Falar foi como uma dádiva que a Natureza nos pôs, para expandirmos o que sentimos.

Falámos muito pouco e embora fosse vago, foi significativo o que dissemos. A nossa distância é incomensurável, mas estás sempre perto. Vives dentro dos meus pensamentos, mas não vês como os meus olhos choram.

Rios de lágrimas que ensopam a almofada ou obrigam a um gasto exagerado de lenços. Como choro!

Agora o que chora é a alma. Está só e só vai ficar por tempos incontáveis, contudo o meu amor não tem tempo, nem densidade nem é apenas feito das palavras que deslizam por esta folha impaciente por recebê-las. Assim escrevo. Assim escreverei até ao fim, dilacerada por uma ausência sem tamanho.

A tristeza não se pesa, não se mede, não se avalia. A tristeza é o elixir da morte extemporânea; a tristeza é o condimento de um amor feito de incertezas, saudades e desilusão…

Mas falámos. Não disse nada do que queria. Não deixei deslizar os lábios meio frios pelo teu corpo porque está ausente. Não deixei as tuas mãos encerrar as minhas, porque apenas falámos e tão longe… tão longe, que pouco dissemos…



29.11.07