domingo, janeiro 27, 2008

TRISTEZA


Não sei se é possível avaliar a tristeza. Não sei se há uma unidade de equiparação para que esse valor nos seja fornecido com precisão. Apenas sei e por instinto, que a tristeza que sinto é incomensurável. Jamais imaginei ser tão triste. Sentir a tristeza que sinto.
Como estou destruída!
Como uma ilusão pode ser tão devastadora…
Como é que uma quimera nos pode arrasar tão profundamente?... A quimera da vida!
Sim! Porquê teria imaginado que deixaria de ser tão só? …
Troquei… comercializei a palavra com a solidão para não estar só… É triste! Fiquei mais só. Usada. Banalizada. Preterida. Ignorada.
Os meus sentimentos ignorados, foram vandalizados, apedrejados, mal tratados…
O primeiro impacto foi o do maravilhoso. O do encantamento pela palavra… o do domínio da incerteza, com as suas fantasias… orquestras de sinos no paraíso… ninfas segredando poesia as som dos murmúrios do rio… e deixei-me embalar pela doçura do imprevisto e pela originalidade dos factos… pela beleza do imaginário e pela perspectiva das consequências… até as desejei rápidas. Morrer lentamente deve ser atroz…
Depois, no silêncio do estar mais só, aquando a respiração quase não se sente, odiei-me e também a todo o cenário que apadrinhou toda a ilusão… viver!
Quando a tristeza ultrapassa a nossa dimensão, o fim é a solução… as recordações dissipam-se como as peugadas no deserto…

27.01.08

sábado, janeiro 26, 2008

PASSEANDO PELA PALAVRA


Vou contar-te um segredo. Talvez não seja bem um segredo. Talvez seja mais um desabafo. Um daqueles desabafos que só alguém muito especial pode entender.
Pois! Talvez nem seja um segredo nem um desabafo, talvez seja apenas o deixar que os sons emitidos sejam o de palavras…
Mas encontrei a Palavra nas minhas deambulações pelo Monte… Sabes? A Palavra é a fonte inesgotável dos dizeres de cada um de nós… a Palavra é o som. A Palavra musicada é um hino de Amor, um lamento… uma lágrima.
A Palavra é a eterna viajante. De boca em boca, de papel em papel, a Palavras é o elo de ligação entre nós.
Uso a Palavra de noite e de dia. Umas vezes dizendo-a, outras escrevendo-a, outras ainda, deixando-a correr livremente pelo pensamento. A Palavra é a companheira que escolhi desde sempre e percorre-la é uma proeza, por vezes perversa, por vezes maravilhosa… mas a Palavra é o alimento da minha alma e a minha alma sem a Palavra não é nada…
Sabes? Perguntei à Palavra se sabia como dava prazer… a Palavra respondeu-me que se fora Saber, se transmitisse conhecimento… sim, era Prazer… um prazer breve como a brisa primaveril. … porque o saber é inesgotável e o conhecimento um Oceano sem fim… nunca se consegue atravessá-lo, quanto mais se avança, mais falta para se chegar à costa…
Interroguei a Palavra se também tinha necessidade de reflectir… e a Palavra retorquiu que sem reflexão não fazia sentido… então a palavra é o pensamento e o pensamento a reflexão… assim anseio pensar e encontrar uma explicação cabal para as questões que vão brotando do meu pensamento…
Continuei a passear pela Palavra e com a Palavra, esperando encontrar-te por aí, entre a minha e a tua palavra… pensando e continuando a estimular as perguntas, para continuarmos o nosso caminho na busca de respostas…
Na Palavra encontrei o poder do seu uso… o poder do uso da Palavra é incontornável! …


26.01.08


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sexta-feira, janeiro 18, 2008

DISSEMELHANTES MOMENTOS


Vou dar uma festa!
Vou dar uma festa, finalmente liberta do teu fantasma.
Vou dançar e ouvir todas essa coisas alegres que tens para me contar… e para? És demais!!!
És mesmo demais! Há quanto tempo não me ria desta maneira, nem sentia o sangue a fervilhar nas veias? Senti-me! Fui eu, o que parecia ter desaparecido há algum tempo...
Ao mesmo tempo foi útil este breve interregno entre a doença e as férias, foi a única forma de saber que atrás dessa bata, branca e resplandecente, havia uma alma, bela e transparente, ingénua e cúmplice, dividida entre a ciência e a gentileza.
Há quanto tempo não me abriam a porta para eu passar?!…. Há quanto tempo não me sussurravam ao ouvido dessas palavras…
Entre o saber e o prazer, com esse programa informático, conseguem-se (medir/avaliar) as células nefastas. Que interessante! Quando tens os meus resultados?
Cada segundo é um bilião de horas de impaciência para ouvir essa doce e melodiosa voz, cantar baixinho, que sou a doente eleita…
Até que o tempo passe veloz, vou fazer umas leituras, para que se repita o programa, que se vai tornando hábito, caso não surjam casos graves.
Ontem!
Foi o melhor café que bebi!...


18.01.08

sábado, janeiro 12, 2008

DEAMBULAÇÕES DO PENSAMENTO


A escuridão penetrou pelas trevas recortadas em anil alaranjado, qual bordado imaginado pela Natureza, anunciando a hora crepuscular.
A grandeza do momento foi o momento em que a vida se recostou no rio e adormeceu…
O entardecer é assim o tecido onde nos envolvemos no momento em que nos separa o é do nada, o momento de fragilidade que todavia se continua a tentar avaliar… e que se esvai na imensidão do infinito que é o além, onde se espraia a morte sem quaisquer interpretações…
E quanto mais ponderamos na morte, mais incertezas pairam na existência. A incerta e insegura existência que nos permite deambular entre trocas e encontros desencontrados, em tempos desacertados mas distintos… que aumentam a diminuição do nosso tempo de vida…

12.01.08

terça-feira, janeiro 08, 2008

UMA NOITE DE MUITAS NOITES


Vieste como uma brisa muito suave. Acariciaste todo o meu ser. Louvaste o meu sorriso. Beijaste meus sonhos que apreciastes ao saírem desta minha mente moribunda…
Foste a brisa que ateou as brasas de um fogo extinto e em fase de rescaldo. Foste herói e vilão e de sonho em sonho, apenas foste a figura heróica que saiu de um dos sonhos e que se foi tornando num papão e que me fez acordar como que de um pesadelo…
Vieste, como gota de orvalho, dar viço a uma flor que morria, na secura do deserto da vida e vieste por bem… pensei…
Atravessei mais uma das muitas noites em que vagueio entre as veredas do monte ou que de faróis nos máximos, disperso a minha atenção nas curvas do Monte Gordo…
Vagueio agora, na penumbra do nevoeiro, na penumbra da minha alma, na penumbra da solidão feita música de fundo…
O nevoeiro é espesso e nem vejo o rio… aquele rio que fez fronteira entre o além e o agora, em que tu foste a ponte que atravessei em busca da vida. Mas apenas me ofereceste morte…. Morte de sonhos, Morte de desejos, morte das recordações que foram por décadas o baloiço que embalava a minha alma e a imaginação…
Vieste como a mais suave brisa primaveril, deixando o delicioso perfume das flores espalhar-se por mim, como uma bênção de vida…
Mas foste fugaz como o arfar de morte e o perfume que resta é o de pétalas secas…
Vieste tão suave… tão doce… com tanta delicadeza… Disseste palavras tão bonitas. Balbuciaste versos de cantigas antigas… e foste tão enganador… Foste a utopia feita ser real… quando apenas eras utopia e sem te dares, dominaste. Misturaste alma com carne e perdeste a magia que um sonho dá… Perdeste!
Foste apenas uma noite de muitas noites…

08.01.08

sexta-feira, janeiro 04, 2008

VERDADE II

Novo Ano!
Não é novidade para ninguém, mas para não fugir à tradição, aqui deixo também os meus votos de que tudo, sem excepção, seja maravilhoso para todos vós, neste “novinho em folha”, 2008.
Que tenham saúde. Com saúde somos felizes.
Verdade Dois, porque, por ser verdade, não deixei de a deixar escrita no meu Diário… e aqui, para que sintam quão ridícula é a verdade, sobretudo, se se trata de saúde…
Em fins de Novembro do ano passado, sentia-me muito cansada.
Sentia-me como que flutuando, ou melhor, disse-o aos meus alunos sénior, que me parecia estar caminhando sobre um colchão de água (nada de ser mal intencionado…)
Estava cansada. Estava desiludida e triste ou só cansada. Estava saturada de alguns desaforos… e por vezes, por chorar sem limites pelo que me magoas, quando perdes o norte ao que dizes… e ou não … com o intuito pré-programado de me arranhar… mas estava cansada e nem mesmo de tudo isto me lembrava, nem atribuía a esses factores tamanho cansaço… Apenas me sentia a desfalecer ao fim de cada dia… e passou uma semana… e mais uns dias de outra… Quase férias de Natal, devia ser cansaço de muita azáfama…
Comia bem, andava, como sempre em stress, com a adrenalina nos píncaros… enfim, parecia vender saúde… mas não. O cansaço era proveniente de alta temperatura… e ao cabo de semana e meia, lembraram-me de medir a temperatura… 39º,97… Loucura!
Uma corrida para a médica de família e desta, para as urgências do Hospital, com uma carta na mão… devia dizer “URGENTE”, … diria? Não sei!
Na urgência do Hospital foi entregue a carta; colhidos os dados todos que solicitaram e por fim, lá entrei na triagem… Um “aparelhómetro” encostado ao ouvido direito acusou os tais 39,97 de temperatura…
“Agora vá para aquela sala e espere um pouco. Tire esses casacos”
Claro! Eu estava cheia de frio, mas tirei os casacos e dobrei-os no colo… Duas horas! Duas horas depois, como nem sequer me haviam olhado, levantei-me, tonta, pela febre e pelo que observava (pessoas com soro, pessoas em macas… enfim, e, pessoal que se preocupava se a colega ia comer sopa, se não se esquecia da prenda do jantar de Natal… se eram as tais botas que ia usar…) pois levantei-me da minha cadeira, lá escondidinha entre dois pacientes a soro e fui corredor fora… e interpolaram-me para saber onde pensava que ia… Viram-me! Mas não ligaram ao meu estado, apenas, nem podia deixar os casacos ao acompanhante e devia esperar mais… com quase quarenta graus de temperatura…
Pois tinha de ir à casa de banho com dois casacos no braço… e tinha de continuar a esperar. Que fúria me deu! Senti-me tratada abaixo de cachorro… e berrei “Vocês não prestam! Não têm consideração nem respeito por quem não se sente bem.” E sem que me deixasse agarrar, fugi…
Mas como estava mesmo mal, recorri a outros meios (porque posso) e acabaram por diagnosticar - Pneumonia! Só que a proveniência da cuja… ainda anda a ser estudada, mas não no Hospital da área onde resido… aí, possivelmente, será só para passar a certidão de óbito…

04.01.08