segunda-feira, julho 31, 2006

FUI CONVERSAR


Gosto de ir ao campo. A paisagem verde deixa-me calma, sobretudo quando vou à procura de qualquer coisa que os aglomerados de cimento não me deixam ver. Também gosto do mar, ou não fora eu de um signo de água…

Mas a minha ida à Lezíria tinha como finalidade dar dois dedos de conversa. E encontrei mesmo quem precisava: uma Vaca.

A manada não era muito grande, mas uma salientou-se do grupo, quer fosse por curiosidade, quer fosse mesmo, para correr com a intrusa, que era eu….

Mal a cumprimentei, pareceu-me responder-me com um mummmm muito prolongado, mas que me deu azo a encetar a conversa a que me propusera, quando estacionei o carro à beira do imenso campo de pasto.

Amistosamente deixei que matasse a seu interesse e expliquei-lhe que não lhe iria fazer mal, mas queria perguntar-lhe o que pensava dos seus predadores homens. Já alguma vez lhe ocorrera que não passava de um mero objecto de valor económico e nutritivo do Homem?

Perguntei-lhe se sabia que a sua pele peluda servia para muitas coisas, sobretudo, para calçado…. E os cornos? Aí, fez um movimento de cabeça, como se se tivesse apercebido que pesavam mesmo… e expliquei-lhe que há cabos de facas, que são dessa sua parte nobre…

Perante alguns dos meus comentários a amiga Vaca pareceu indiferente, e petiscando a ervinha a seus pés, quase parecia me mandar passear…

A conversa estava a deixar-me cada vez mais empolgada, pois que para além das mordiscadelas na erva, ela apenas ia fazendo os seus mummmmmssssss, como se apenas dissesse “sim!”

Decidi ir mais fundo na conversa e perguntei-lhe se já havia comentado com as colegas, que os homens, para além de se alimentarem com a sua carne, o seu leite e usarem a sua pele e cornos, se entretinham pelos cafés, muitas vezes sem quaisquer outras finalidades que não a de comentar outros que aí entram, na política, a verem onde têm mais protagonismo, na banca, onde procuram usufruir de maiores lucros, na Internet, pescando aqui e além textos de outros e copiando, mostrando que são muito bons a mostrar o trabalho dos outros… e depois, sem muitas vezes saberem a fundo de determinados temas e atrevendo-se a falar de mentes poluídas, de poetas, de compositores… de coisas que infelizmente, apenas uma faixa muito estreita dos homens sabe, eventualmente, o que possa ser…

A minha interlocutora, parecia atónita. Deixou-me falar, atendeu a todas as minhas solicitações de atenção e daí a algum tempo, como que cansada de me escutar, deu meia volta, deixando no ar o seu característico mummmm, à laia de boa tarde e passe muito bem…

Não obtive muitas conclusões da minha conversa com aquela Vaca, mas pelo menos senti-me bem comigo, porque lhe deixei uns quantos alertas no que refere ao seu principal predador…


31.07.06

quarta-feira, julho 12, 2006

EXÉQUIAS!

Magda telefonou-me muito excitada, porque finalmente havia ultrapassado todas as barreiras que a impediam de realizar o que mais havia almejado desde 1978.

Pediu-me que a acompanhasse no dia onze, pois o funeral realizar-se-ia a meio da tarde.
Disse-lhe que era impossível, pois tinha agenda cheia e transferir sessões assim com tão pouco tempo, poderia retumbar numa confusão imensa.

Acabei por ceder. Afinal fazia o seu acompanhamento há mais de dez anos. Durante esse acompanhamento, houve mais do que três deslocações a Azóia. Era tempo de pormos as coisas nos seus devidos lugares e era sobretudo tempo para que Magda encetasse a nova vida com que tanto havia sonhado.

Magda esperou-me no parque de estacionamento. Deu-me o braço e caminhou a meu lado, muito séria e compenetrada.

Quando chegámos à porta do Cemitério, estavam em fila três carros funerários, tão carregados de rosas vermelhas, que me deixaram estupefacta.

“Todas, são os minutos em que nunca esqueci quem mais amei a vida toda…” disse baixinho ao meu ouvido.

Entretanto explicou-me que lá na Azóia o espaço havia sido solicitado e por esse motivo, quem reclamasse a ossada, poderia transladá-la para o lugar de preferência. Procedeu aos requisitos necessários e aqui estavam os restos do seu amado, para serem cremados, junto das rosas.

Eram mais de quatro mil rosas… e a fumaça branca que subiu em espiral para o céu, deixou um perfume a “Sky” a pairar no ar, que me fez chorar pela saudade que também tinha dentro de mim…

Creio que deixei ir a minha rosa junto com aquelas… Paz ao que não mais terá retorno!

Quando saímos, e por imposição do pessoal, porque iam fechar, fomos para casa de Magda, onde uma vez mais folheamos o álbum das fotos, que religiosamente continuava sobre a camilha da sala…

Espero que, finalmente, Magda seja feliz!

12.07.06

ESTA TARDE!


Lúcia (nome fictício) tinha a sessão marcada para as dezasseis horas, mas veio meia hora mais tarde.

Como sempre, muito bem cuidada. Como se diz actualmente, muito produzida. Ares de grande dama, num perfeito faz de conta, porque esta pessoa está a passar um momento de grande perturbação.

Com um casamento com mais de vinte anos e com um filho, que foi viver com os avós para a Suiça, por não querer estudar mais, vê-se diariamente confrontada com o seu papel de mulher fêmea, que a deixa insegura e com uma auto-estima muito baixa.

Lúcia veio para conversar, para ver se encontrava o fio da meada que estava emaranhada há tempo demais.

Apoiar uma pessoa que se refugia em químicos, para não se aperceber que para além de cozinhar as suas pizas, as saladas e limpar o pó, só serve para o marido se satisfazer fisicamente, pois que o senhor em questão, mais culto, vive para a sua profissão e para os seus negócios, que diz serem para manter os luxos da esposa, é extremamente difícil. Mas finalmente, Lúcia entende que toda a sua problemática vida, está contextualizada na sua vida em geral e a sua sensação de não servir para nada que a preencha, tem de ter um fim, pois começou a não aceitar a idade que tem, sentindo-se inútil e admitindo que o marido a vai pôr de parte, encontrando alguém mais jovem e com outros atributos.

Depois de ouvir Lúcia por meia hora, sem a interromper, sugeri que podia ocupar o seu tempo dedicando-se a aprender qualquer coisa que a satisfizesse, para aplicar esse conhecimento em um qualquer hobby, que a fizesse ultrapassar a sensação de vazio.

Sugeri que fizesse voluntariado com crianças ou com pessoas que necessitam de companhia, mesmo sem estarem doentes. Enfim, fui dando pistas, para que daí lhe surgissem ideias, mas sempre aquele olhar distante, como se procurasse algo num ponto indefinido de um espaço que não estava a ver.

Lúcia acabou por se despedir até à próxima semana, dizendo que tinha uma coisa para me contar, mas que para isso tinha de estruturar os mecanismos que a deixassem desinibida e a levassem a ser clara para não entrar em conflito com ela própria, como acontecia muitas vezes…

E…. foi o caso mais marcante desta tarde: há aqui uma velada violência conjugal!

11.07.06

terça-feira, julho 11, 2006

E foi assim que passei a saber o que atormentava a minha curiosidade…

Entrou pela porta de rompante. Puxou a cadeira e tossicou e abriu a boca desmedidamente, num bocejo deselegante, deixando ver uma dentadura descuidada, diria mesmo que tive nojo…

Decididamente, uma vez que veio até aqui, em que posso ajudar, foi tudo o que me ocorreu dizer…

Nada de especial, respondeu prontamente, acrescentando que já tomava mais de uma dúzia de comprimidos por dia, mas agora era demais, não estavam a fazer mais efeito…
Mas, tive de informar que não passo receitas e muito menos sou de opinião, que as pessoas se refugiem em drogas, para ultrapassarem as suas dificuldade psicológicas (as suas frustrações e todo um manancial de situações que só com inteligência podem ser ultrapassadas), não disse, pensei…

No meio desta catadupa de frases, perguntou-me pela pessoa X. Respondi-lhe que não sabia, pois não posso saber de todas as pessoas que são do relacionamento de tal personagem.

Depois de outras banalidades, à laia de confissão, volta a perguntar pela tal pessoa conhecida e se eu houvera lido os seus últimos escritos… no mínimo estranhos…. Mas como poderia eu saber? Nem conheço a pessoa em questão (?)…

Depois revelou que fora convidada para o enlace matrimonial do ex. Havia um bom relacionamento posterior à separação… que estranhas formas de vida… há um ex. um presente e desejos de um futuro… que revelações! Estou mesmo a atravessar a maior paixão da minha vida, dizia com olhos saindo das órbitas, como um bêbado que quer passar por meio de um candeeiro…

Mas não ficou por aqui a consulta. Porque vieram outras e outras frases que me deixaram atónita… e sempre a pergunta disparatada se eu tinha falado com a pessoa X, que não me explicou bem se era quem era, ou se não era mais do que o quem eu estava a supor…Mesmo já tendo ouvido dezenas e dezenas de pessoas, esta estava mesmo obcecada… Como é estranho tudo isto!

Enfim, depois de acalmar uma “paciente” tão complicada, tive de mentir, dizendo que tudo se ia recompor… nem ela sabe onde se meteu…. Mas enfim, enfim…enfim…

Era tarde e fechei a baiuca. Nada mais para mais ninguém… nem chamadas telefónicas.
Precisava de pôr a cabeça em lugar seguro, porque sempre há quem a tenha pior do que a minha….

Tive ganas de telefonar ao querido e desabafar. Há certas pessoas que nos procuram e nos deixam mais “doentes” do que elas estão na realidade… Mas não. Fiquei tão abalada com o que ouvi e observei que o mais que posso fazer, é não pensar mais no assunto.
Nem sempre as histórias têm um final feliz…..

11.07.06 – 02H30

sábado, julho 08, 2006

LIVRO EM BRANCO


Comprei um livro em branco,
Para escrever frases de amor,
Mas deixei-o sobre a mesa,
Esperando encontrar um rosto franco,
Com um sorriso e falador,
Para apagar a minha tristeza…


Folheei as folhas tão alvas
Onde decidi nada escrever.
A capa dizia Livro em branco
E as letras dum verde de malvas…
E tinha o livro e nada para dizer…
Porque não encontrei um rosto franco…


Guardei o meu livro e esperei
Numa espera de ansiedade
Deixando o meu livro inútil
E não escrevi, nem escreverei…
Porque só lá deixaria saudade,
Poesia; … tudo o que é fútil…


Podia escrever sobre a maldade,
Ou deixar a minha poesia
De escárnio e maldizer,
Mas isso seria perversidade,
Que mais ninguém entendia
E iam chamar de crueldade…


Porque poeta, é aquele que é cruel,
É o que diz sempre sem dizer
E dizendo, diz o que não sente…
Por isso lhes chamam amargos de fel,
Por isso lhes querem fazer crer
Que só vivem inutilmente…


No meu livro em branco só vou escrever,
Que detesto os ociosos,
Os presunçosos, os sem imaginação,
Porque criticam o meu escrever
E não passam de seres maliciosos,
Incoerentes, indecisos e sem coração…


E para me libertar da saudade,
Vou contigo ler o que não escrevi,
Vou deixar que me abraces forte.
Quero-te no meu livro como verdade,
Como toda a que senti,
Com toda a veracidade,
Antes da minha morte…


08.07.06
11H50
“In Hairdresser”

sexta-feira, julho 07, 2006

ERA PARA TI!

Este arquivo de poesia, que corresponde aos primeiros seis meses de 2006.

Dedico-o com todo o carinho a quem tem convivido mais comigo, nestes últimos tempos. Alguém que me conhecendo bem, teima em escarificar a ferida não cicatrizada da saudade…

Dedico-lhe também estas breves palavras, que não são senão um choro silencioso, por nem sempre ter compreendido que há muita perversidade em muitas das pessoas a quem pretendemos brindar com o nosso relacionamento e nos vão usando como meio de desfeitearem quem não gostam.

O Homem vive de recordações. Faz elos de ligação entre si e outros Homens. Aproxima uns, repudia outros; faz mal a muitos, mesmo que por vezes não tenha a percepção disso. Há os que vivem premeditando a maldade e por gestos, por diversas manifestações de agressividade, vivem tentando machucar o seu semelhante, para progredir e vencer, apenas para lhes ganhar a posição. Como que cada um não fosse um ser individual, no seu espaço, sem qualquer possibilidade de substituir ou ser substituído. Dividem os que os rodeiam com habilidade e impostura. Dividem para reinar.

Há quem procure em excertos de textos de verdadeiros autores, a forma de indirectamente agredir, mostrando o que pretende, ou está pretendendo fazer, apenas com o intuito de martirizar quem os possa ler.

Durante as últimas semanas de Junho, fui agredida verbalmente por diversas vezes, por quem não passa de ninguém, pela simples razão de querer tomar uma posição, que não tenho e que dificilmente terei, mas pelo contrário já a tem e há muito. Lamento! Esse tipo de pessoas, não merece ter essa designação, nem tão pouco de animal, porque afinal, os animais conseguem ser mais gregários que os Homens!

Quando era adolescente, li um livro muito interessante que se chamava “A Importância de se Chamar Ernesto”. Cabe muito bem a certas pessoas essa vestimenta…

Mas chega de batalhar sobre quem não merece sequer uma linha, porque até parece que estou a dar importância a um assunto que, só por si, não merece uma única palavra.

O que escrevi ao longo destes dois anos, quer prosa, quer poesia, foi-te dedicado, como disse, com todo o carinho que achei que merecias… até ao dia em que passaste a ter um “tu” de afinidades, apenas sociais, ou não, com quem me tem vindo a molestar das formas que são públicas – sabe-las bem, mas gostas dessa partilha, só porque reges o teu espaço narcisicamente, sem pensares nos que te rodeiam e que te têm sido dedicados!

Estou de acordo! Só não pactuo com banalidades.

sábado, julho 01, 2006

E VAI DAÍ


Quando me “licenciei”
E para isso estudei… estudei…
Fiquei cheia de vaidade.
Porque doutora, é verdade,
Tem saída em qualquer lado,
Até para arranjar um namorado…
Mas com tanta euforia,
Nunca passei da agonia,
Do simples faz de conta…
Embora seja uma afronta….

Umas farras, uns bailaricos,
Uns cigarros e uns copitos,
Então não é bem melhor?…

E doutora, “licenciada”,
Cresci sem fazer nada,
Porque era importante casar…
Fingir e poder armar
Em dama conhecedora,
Muito chique, muito doutora…
Dizendo sempre saber
Disto e daquilo, sem ser,
Realmente conhecedora,
Mas sempre com ares de doutora…

Umas frases empolgadas,
Umas vestes engomadas…
Mas com copitos, é melhor…

E de anos em anos a passar
Como doutora, sempre a reinar,
Sempre julgando ser a melhor,
Acabando no pior…
De manhã à noite enfrascada…
Dizendo que só bebia limonada…
Ficou-se pela bebedeira,
Rezando à padroeira,
Para mostrar e omitir,
O que já não podia fingir…

Sempre com falinha mansa
Com uns copitos na pança,
Hei-de levar a melhor…

Em constante insinuação,
Acho-me com frustração
E comecei a tratar-me…
E a tentar libertar-me
Duma grande enfermidade:
Stress e ansiedade…
E quando o sono não vinha,
Lá ia mais uma bebidazinha…
Até começar sério tratamento,
Com muita dor e sofrimento…

Cheia de medicamentos,
Ensonada em todos os momentos,
Tinha de ir em frente…

Passei então a navegar.
Cibernauta veio a calhar
E arranjei forma segura
De olvidar a secura
E saudade de beber
Que fazia, para esquecer…
Mas, há sempre um mas afinal…
Encontrei alguém igual
E comecei a conversar
Que só para mim eu quis guardar…

Sabia de informática,
Calculo e matemática.
Era a pessoa ideal!

E lancei a confusão
Por estar presa a uma paixão
Que já não era a bebida
Mas que vai deixar ferida
Uma idiota qualquer,
Que pensa que por ser mulher
Vai levar a melhor, ganhando,
A quem estou amando,
E vou arruinar-lhe a paciência
De mansinho, sem violência…

Desta maneira, dividir para reinar,
Aqui estou por lhe ganhar
Porque é burra, loira e sentimental…


histórias de entre nós
01.07.06
isabel