sábado, dezembro 22, 2007

A VOZ INTERIOR


Pouco tenho escrito de raiz. Concluo alguns textos que, como sempre, por múltiplas tarefas, vou deixando a meio. Mas agora é no todo dos todos que vão saindo todas estas palavras. Desabafo? Lamento? Não sei, apenas sei que se não escrever fico entupida e quase rebento entre os soluços e as lágrimas e os gritos que morrem na garganta e não saem senão nestes suspiros intercalados com o soluçar…
Amiga, consegui desejar-te boa sorte para o dia importante que é hoje. Não me contive e chorei. Perdoa-me. Sê feliz por favor!
Depois falei com outros amigos. A época é propícia a que se seja gentil e nem em estádios de instabilidade se consegue deixar de cumprir formalidades tão arreigadas nas gentes.
Um dos amigos esteve mesmo comigo, de corpo presente, com um abraço de infinita bondade, dando-me a força que precisava, toda cristal delicado e antigo, que a uma corrente de ar se estava estilhaçando…
E todo o meu interior se estilhaçou. Mil fragmentos de desespero foram uma mão cheia de cacos do que resta das esperanças e dos desesperos que rodopiam por mim toda… e se ainda viver depois de amanhã, talvez possa segredar-te que foste o amor da minha vida…
Injustiça! Logo agora que vivia bastante ocupada, a doença veio dominar como qualquer déspota prepotente, destruindo a coroa de sonhos que deixara na minha jarra eleita…
Quero aquela rosa carmim presa nos lábios, quando selares a minha boca no beijo último, da última despedida…
Ingratidão! Como todo o tempo foi ingrato para mim, não permitindo até que o diagnóstico fosse conclusivo, para que não continuasse neste impasse de vida e o que mais?
Desolação! Sim! No mínimo desolador não ter tempo para te dizer que te amo. Que tudo é teu e o mais insignificante sonho foi contigo…não olhes! Desencorajas-me, muito embora saibas da decisão… ficam todos os silêncios e todas as turbulências consequentes de quem não te sentia, como sempre te senti.
Desalento! Já alguma vez sentiste desalento? É estranho. É algo grande dentro de nós que nos faz sentir infinitamente pequenos e as palavras deixam de ter significado e os significados deixam de ter razão de existir… por isso dizer que te amo é uma anormalidade, uma descomunal anormalidade… a um moribundo, deixa de ter sentido certos dizeres…
Natal!

2007.12.22

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