sábado, maio 27, 2006

(RE)LEITURAS

Leio e releio tudo o vou escrevendo, num constante recordar das etapas que vou tentando ultrapassar, no dia a dia que atravessa a minha existência…

Louvo os que pela lei da morte se vão libertando das agruras que a vida deixa, em sulcos profundos de dor, na imaterialidade de cada um de nós…

Louvo os que nem por um momento, deixaram tempo para um adeus! Corajosos!

Um desapossamento de sentires e vontades, deixa em quem parte, um vento de liberdade, uma partida sem rumo, como o pólen que esvoaça pelos campos e caminhos, no fim da tarde brumosa….

E para além dos escritos que repovoam as minhas mesas e os arquivos que guardo no computador, nada, mas mesmo nada existe… apenas vai restando uma vontade de não voltar a escrever, não voltar a pensar, não voltar a sonhar… Ninguém existe! Ninguém é nada! Então, que fazemos neste deserto, onde nem os lacraus resistem…

27.05.06

terça-feira, maio 16, 2006

RODOPIO DE PENSAMENTOS

A água corre com um jacto forte e intermitente, não muito quente e acaricia-me o corpo numa massagem revitalizadora e reconfortante, enquanto o pensamento vai deixando desenrolar uma corrente imensa de factos e imagens que me entorpeçam as vontades e exaltam o desejo do que jamais aceitaria.

Passo em filme continuado todas as imagens que guardo religiosamente na memória, bem como todas as páginas que me foste passando, com tudo o que foste escrevendo e que querias que eu lesse. Tudo, sem omitir uma única virgula vai escorrendo, tal como escorre a água pelo meu corpo, neste duche matinal…

Nomes! Nomes e mais nomes de muitos e muitas (aventuras fáceis), de gestos aparentemente ingénuos e desprovidos do que quer que fosse, que me fariam pressupor que a simpatia e afabilidade eram o único e real sentido de tudo isso… mas eu não era mais do que o veículo para anestesiar as mentes de todos os incautos, que te fossem lendo, por mera curiosidade…

A paixão por este ou aquele nome (porque foram nomes e não gentes), que te acariciaram, que te beijaram, que compraram o teu sentir e depois se diluíram num mar de recordações amargas que vais esgravatando nos escombros de uma imaginação doentia, repleta de figuras fantasmagóricas, a quem disseste amar e a quem teceste os mais enaltecedores elogios … tempos… e vingativamente, eis que surjo de um beco sombrio (triste e desiludida do mundo onde me movimentava), e pões-me aos pés uma montanha de sonhos… só sonhos!

A amálgama de quereres e não quereres, repovoam o teu sentir deambulante, aparentemente inseguro, para te permitir granjear atenções e paixões que depois aniquilas, como se fossem apenas bocejos depois de um desses fortuitos encontros de devaneio…

Rodei a torneira. Parou o jacto de água. Encerrei o pensamento e um toque de campainha fez-me acordar do que poderia ter sido um sono fora de horas… Um silêncio sepulcral seguiu-se. Enrolei-me no toalhão e fui ver quem batia a uma hora tão pouco convidativa de receber fosse quem fosse… Apenas publicidade! Ainda bem!!!


16.05.06