sábado, outubro 24, 2009

MISTURO-TE NOS PENSAMENTOS

Misturam-se as ideias quando se esgotam as palavras. Palavras que poderiam traduzir o que vai pelo pensamento.

Sabes que é assim porque contigo se passa o mesmo. Transcreves as palavras que a alma dita e nem sempre dizes o que te vai realmente na alma…

Mesmo sem querer misturo-te nos meus pensamentos. Estás ligado aos meus gostos, ao que detesto e a tantos mil aspectos que nem merece a pena enumerar. Os cafés que tomámos, as sombras que desfrutámos, as contrariedades que discutimos e ao que acabávamos por concordar… interessante! Mesmo que o não quisesse, misturar-te-ia nos meus pensamentos….


19.10.09

terça-feira, outubro 13, 2009

FOLHA AO VENTO

Como uma pena que esvoaça, vieste visitar o meu pensamento. Vieste tão docemente como foi a passagem da tua vida pela minha. Não sei se vais reprovar o que escreverei hoje nesta folha solta, mas não resisto, à laia de homenagem escrever sobre ti e sobre nós…

Onde estarás? Vives? Ainda passeias nas margens do Tamisa? Ainda tanta coisa que gostava de te perguntar…

Vivemos de recordações e as recordações são pedaços de vida que nos vão ajudando a transpor o ontem para o hoje e o hoje para amanhã…

Os teus cabelos revoltos, os óculos sempre sujos, o fecho das calças mal subido… parece que te estou a ver bater à minha porta e entrares num misto de inocência e servidão… abraçavas-me tão ternamente! Beijavas-me com tanto fulgor! E sentados no sofá, sentia a tua mão macia e fina como a de um delicado pianista, acariciar o meu joelho ao mesmo tempo que balbuciavas que não era isso que querias fazer…

Repito que não sei se teria a tua aprovação para revelar o que vou pondo aqui, palavra a apalavra… mas tem de ser. Não estaria bem comigo se não te dedicasse estas frases, este texto. Se não te dissesse que foste o grande amor da minha vida…

Estava a chover naquela tarde. Sentámo-nos como sempre, perto um do outro e sussurraste que precisavas de tomar um café. Fomos ao café mas senti-te distante e inseguro… que se estaria a passar?

Voltámos para casa e pediste-me que te desse atenção porque era sério o que tinha para me dizer. Se a memória não me falha, tremi… a primeira coisa que lembrei foi ter de abdicar ao meu amor secreto… mas foi pior e não foi…

Com um carinho que jamais encontrei em alguém, disseste-me que tinhas um namorado que te tinha repudiado e que te envergonhavas de me usares para esquecer as tuas desditas. Acho que naquele momento senti o que alguém pode sofrer por ser preterido. E dei-te alento. E dei-te força e pedi-te muito para que não te deixasses cair em sofrimento porque há sempre forma de superar desgostos desses… a morte, essa não deixaria oportunidade para outras situações, mas essa teria solução, seguramente…

A tarde foi a mais longa que me lembro ter passado, mas por muitos anos nos deixámos abraçados, secando as nossas lágrimas… até ao dia que num longo e terno beijo me disseste adeus… Primeiro Suécia, depois Dinamarca e por fim Londres, numa companhia célebre de teatro musicado… ainda me relataste alguns passeios ao longo do rio e eu olhando para o meu rio, imaginava-te sempre com o cabelo revolto e os óculos meio ensebados…



13.10.09

segunda-feira, outubro 12, 2009

MEDITAÇÕES


Gosto de meditar em frente ao mar, gigante sem tamanho, que se estende para além do horizonte. Gosto de reter na memória a linha do horizonte que nos mostra onde o mar deixa o azul transparente da atmosfera e se enlaça no mar como dois amantes apaixonados.

Medito. Interiorizo no meu silêncio o que talvez gostasse de gritar… mas que se perde antes que se faça som na minha boca. Medito! Retenho na memória o que ouvi, o que li… e também o que vejo, mas que preferiria não ter visto…

Surpreende-te que murmure tudo isto? Não. Não vou repetir o que sei que te iria magoar… só posso pedir-te que esqueças. Deixa que essas recordações mergulhem no nosso mar sem fim…

A voz do meu silêncio bate dentro de mim ao compasso das batidas do coração. Sinto as tuas mãos nas minhas e em uníssono somos ambos a mesma batida, mas em silêncio…

Nas minhas meditações questiono-me. Os porquês são muitíssimos e em abono da verdade nunca me sinto esclarecida. Será que carece de esclarecimento o facto de termos de suportar o que nos deprime, nos deixa inferiorizados? Porquê temos de enfrentar a doença, a morte, os imprevistos? Será que por nos sentirmos infimamente pequenos não podemos procurar a solução, acabando com a dor que nos constrange e nos derrota? Será que por nos sentirmos derrotados psicologicamente não poderemos solucionar a catástrofe que se abate sobre nós?

Aí está porquê o silêncio em que me fecho tem o som ensurdecedor do eco numa caverna…

Pensa agora e opina! Ainda achas que na tua especialidade encontras respostas, soluções apaziguantes, fraseologia que me iniba ainda mais? Ou que seja a resposta ao problema que se estende desde há muito – viver!



12.10.09

sexta-feira, outubro 02, 2009

BREVES MEDITAÇÕES

Abri o livro. Folheei-o devagar. Olhei todas as letras e apreciei os espaços dos parágrafos. Não li nada!

Algures um rádio ou uma televisão faziam alusão às eleições a realizar em breve. Desliguei a atenção porque me feriu ouvir falar de um evento que tão dificilmente foi conquistado pelas Mulheres e que agora, que livremente se pode votar, muitas fingem não perceber a importância do acto. Se o se que me acorrenta permitir, lá estarei… a doença não tem o direito de nos privar da liberdade que conquistámos, até com a vida.

Não sei se terei outra oportunidade de ir votar. Tudo é incerto e a ampulheta faz a sua contagem decrescente. Entrei no jogo e vou correr os riscos…

À partida, sempre soube quão doloroso seria. Também sempre soube que a dor física domina e até pode ser mais massacrante que a dor psicológica. Mas decidi ir à luta.

Voltei a pegar no livro. O livro é de um autor que faz parte da lista dos meus favoritos. Além do mais, sinto-me um pouco (patrícia) de Mia Couto.

Peguei no livro decidida a ler mais umas páginas. Li umas quantas folhas, mas começaram a faltar-me as forças. Nem para leituras nem para o “meu poema por dia” me sinto encorajada.

Talvez durma um pouco ou deixe que mais umas lágrimas corram pela face, como demonstrativo da revolta que sinto por não conseguir ultrapassar o que me prende…



02.10.09