Como uma pena que esvoaça, vieste visitar o meu pensamento. Vieste tão docemente como foi a passagem da tua vida pela minha. Não sei se vais reprovar o que escreverei hoje nesta folha solta, mas não resisto, à laia de homenagem escrever sobre ti e sobre nós…
Onde estarás? Vives? Ainda passeias nas margens do Tamisa? Ainda tanta coisa que gostava de te perguntar…
Vivemos de recordações e as recordações são pedaços de vida que nos vão ajudando a transpor o ontem para o hoje e o hoje para amanhã…
Os teus cabelos revoltos, os óculos sempre sujos, o fecho das calças mal subido… parece que te estou a ver bater à minha porta e entrares num misto de inocência e servidão… abraçavas-me tão ternamente! Beijavas-me com tanto fulgor! E sentados no sofá, sentia a tua mão macia e fina como a de um delicado pianista, acariciar o meu joelho ao mesmo tempo que balbuciavas que não era isso que querias fazer…
Repito que não sei se teria a tua aprovação para revelar o que vou pondo aqui, palavra a apalavra… mas tem de ser. Não estaria bem comigo se não te dedicasse estas frases, este texto. Se não te dissesse que foste o grande amor da minha vida…
Estava a chover naquela tarde. Sentámo-nos como sempre, perto um do outro e sussurraste que precisavas de tomar um café. Fomos ao café mas senti-te distante e inseguro… que se estaria a passar?
Voltámos para casa e pediste-me que te desse atenção porque era sério o que tinha para me dizer. Se a memória não me falha, tremi… a primeira coisa que lembrei foi ter de abdicar ao meu amor secreto… mas foi pior e não foi…
Com um carinho que jamais encontrei em alguém, disseste-me que tinhas um namorado que te tinha repudiado e que te envergonhavas de me usares para esquecer as tuas desditas. Acho que naquele momento senti o que alguém pode sofrer por ser preterido. E dei-te alento. E dei-te força e pedi-te muito para que não te deixasses cair em sofrimento porque há sempre forma de superar desgostos desses… a morte, essa não deixaria oportunidade para outras situações, mas essa teria solução, seguramente…
A tarde foi a mais longa que me lembro ter passado, mas por muitos anos nos deixámos abraçados, secando as nossas lágrimas… até ao dia que num longo e terno beijo me disseste adeus… Primeiro Suécia, depois Dinamarca e por fim Londres, numa companhia célebre de teatro musicado… ainda me relataste alguns passeios ao longo do rio e eu olhando para o meu rio, imaginava-te sempre com o cabelo revolto e os óculos meio ensebados…
13.10.09
1 comentário:
(...)Vivemos de recordações e as recordações são pedaços de vida que nos vão ajudando a transpor o ontem para o hoje e o hoje para amanhã…(...)
Maravilha de texto e ainda bem que o partiçlhaste connosco!!!
Obrigada, minha querida.
Jinhos muitos
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