sexta-feira, outubro 31, 2008
NÃO DÁ PARA PERCEBER…
Às vezes contam-nos coisas que achamos insólitas, porque até parece que nos estão a contar anedotas… mas não! Posso dizer que se passou comigo, aqui vivinha, que nem vão acreditar…
A 25 de Julho de 2008, finalizei um ciclo de aplicações de radioterapia no Cérbero. Após a sessão seguiu-se uma consulta onde foi marcada uma consulta para apreciação de exames a fazer. Consulta essa marcada para 30 de Outubro às 14H00. Até aqui tudo bem, e sem quaisquer contestações. Uma semana antes da data prevista para a referida consulta, para lembrar a mesma, foi-me enviado um MSN, ao qual bastaria responder sim ou não. Perfeito! Respondi sim, até que já haviam sido feitos todos os exames prescritos e cujos resultados seriam apreciados na dita consulta e numa outra posterior, a realizar em outro centro hospitalar.
Dois dias antes da famigerada consulta, voltei a receber um novo MSN, com a mesma lenga-lenga. Liguei para o número opcional, pois poderia ter acontecido não terem recebido o “sim” anterior. Depois de dar a volta pelos números todos, que respeitam a diversos departamentos e consultas, lá cheguei a um que ao cabo de uns minutos me permitiu falar com um senhor, muito simpático, que me explicou que as mensagens apenas serviam para avivar a memória dos pacientes. Não necessitava mais nada.
Agora começa a odisseia…
No impresso de marcação da referida consulta, pede para que estejamos meia hora antes da hora da marcação.
A chuva, o vento e um friozinho pouco agradável, fizeram-me chegar apenas cinco minutos antes da hora marcada; apresentei ao balcão o impresso da marcação e mandaram-me sentar, pois chamar-me-iam logo que fosse para a consulta.
A minha rejeição àquele local é superior à minha vontade. Dentro de mim desfaço-me em lágrimas e sinto um terror incomensurável no caso de ter de voltar a transpor aquela porta vermelha…
Uma hora depois, portanto 15H00 chamaram-me ao balcão para reconfirmar a minha presença. Voltaram a mandar-me sentar. Chamar-me-iam quando fosse para ir para a consulta…
Às 15H35 voltaram a chamar-me. Não para a consulta. A explicação é que havia um lapso com o nome do médico a atender-me. Iam à procura de uma médica que estaria a almoçar, por isso, que voltasse a esperar…
Dezasseis e cinco minutos! Dirijo-me ao balcão e pergunto se a médica ainda estaria a almoçar… Nada disso! Não se sabia. Um outro médico que procede ao acompanhamento dos doentes em sessões de radioterapia ver-me-ia, pois que eu já estava à espera havia muito tempo…
Um amor de senhor, sem dúvida, que pediu vezes sem fim desculpa. Mas a verdade é que ele não tem culpa nenhuma.
A explicação que me deu este médico e muito bem dada é resultante do programa informático que os médicos têm de accionar para marcar a próxima consulta. Claro que aceita a data! Mas o problema é outro. Na data que o programa assume, nem está esse médico nem essas consultas são nesse horário… Vá-se lá entender que programas informáticos são estes…
E com uma angústia sem medida, com uma dor que nem sabia de onde provinha, vim embora, com a única consolação… cognitivamente não fora afectada…
30.10.08
NÃO ESTROPIO O SENTIMENTO
Esfarelam-se as palavras como migalhas de pão duro. Deixam um ruído a pairar e na alma fica o arrepio do som metálico no vidro… enquanto todos os ruídos se cruzam, caminho pelo caminho que tracei. Um caminho tortuoso cheio de precipícios onde a cada passo sinto a tentação da sua atracção…
Todos os caminhos me levaram ao caminho que me fez abeirar de ti. Frondosa árvore onde me amparei quando o cansaço me fez oscilar e quase desistir de prosseguir o meu caminho… e caminho pelo caminho que tracei para não te perder nunca…
No meu caminho há muitas palavras, muitos dizeres, muitos livros e sempre a constante curiosidade de saber mais. Um caminho cheio de porquês, em que cada porque é uma flor a desabrochar, em que cada pétala é a página que irei ler a seguir. Cada página tem a tua imagem e tudo o que nela deixas escrito é para despertar ainda mais curiosidade.
Tem cada palavra o condão de desbravar horizontes ainda desconhecidos. Cada frase tem um destino, embora possas não o identificar… gosto de idealizar os teus protagonistas…
No meu caminho, muitas vezes senti que estes ou aqueles dizeres me perturbavam, mas como os que dizes, jamais havia sentido… Um afecto muito íntimo me faz abraçar cada palavra com devoção, sem que estropie este belo sentimento…
30.10.08
sexta-feira, outubro 24, 2008
NO PAPEL
A palidez do papel branco aceita a minha tinta preta e recebe todas as letras que lhe vou deixando como se fossem desenhos simétricos e repetidos…
Todas as letras fazem palavras que, muitas vezes traduzem beleza, outras apenas deixam ler a tristeza ou ainda pretendem esconder as cicatrizes que vão perdurando na alma…
Cicatrizes são muitas vezes amargores que se fixam e perturbam o dia a dia. A distância origina pesares que se vão acumulando e quando damos conta de nós, estamos num sofrimento incomensurável…
Parti várias vezes. Sempre a sonhar que tudo iria ser como sonhara… mas que engano! Apenas somei dores e sempre mais só.
Lembro-me do Cais de Alcântara e da largada do navio….Recordo sempre o olhar da mãe e do pai… e entre a multidão que apinhava o cais, em despedida dos que partiam, havia um par de olhos castanhos que ficaram gravados no meu peito…
Como me lembro de ter passado tantos dias a chorar… enquanto outros passavam-nos enjoados… mas a saudade dominou todos os meus pensamentos, apenas desejei virar a página o mais rapidamente possível… que saudade!
As cicatrizes também podem ser arrependimentos… alguns! Mas todos os passos apenas serviam para me justificar à solidão.
Depois, um dia, parti em sentido contrário. Foi o que decidi. Foi doloroso. Gostava do que fazia, gostava de toda a gente e das flores que cobriam as árvores da minha rua. Mais uma vez ficaram olhares perdidos entre o céu e a terra, de todos os que jamais voltarei a ver… saudade! Talvez mais umas cicatrizes…
Mas nem sempre fui eu que parti! Que lutos dolorosos tenho atravessado. Há sempre alguém que se vai… e não volta mesmo, ou deixa-me no esquecimento, porque viver é tudo isto. Ou se fica perto ou se fica longe, cada vez mais longe até que a distância passa a ser outra vida.
A palidez do papel aceitou minha escrita. Aceitou as lágrimas que foram escorregando pela face e deixou que a saudade que me aperta a alma fosse um longo suspiro moribundo…
24.10.08
sexta-feira, outubro 03, 2008
DIÁRIO DE UMA NOITE FRIA
Quando escrevo, é porque escrevo. Escrevo, porque gosto muito de escrever e porque é uma terapia. Escrevo atabalhoadamente, porque apenas deito para fora o pensamento do que fervilha na minha alma. É uma forma de falar comigo pela escrita. Um monólogo feito diálogo para expandir minhas revoltas, meus sentires e lamentos… Para afagar meus afectos ou para abafar minhas angustias…
Quando leio notícias nos jornais, ou vejo certas reportagens nas televisões, fico transtornada. É isto o século XXI! Intolerância, desrespeito, repressão… será que estamos mesmo no século XXI? Afinal continuam os suseranos e os servos da gleba…
Adoras imaginar que o que escrevo é para ti e pões-te a imaginar cenas, como se fosses o centro de todas as atenções… não és diferente das outras pessoas… gostas de fazer de conta que és o supersumo das deferências. Mas tens de entender que apenas mereces o que tens…
Um dia acordas e vais estar só. Pensas que todos vão gostar de ti ao ponto de aceitar a forma irreverente como tratas os amigos?...
Vens espreitar, pela calada da noite, o que deixo escrito, para depois criticares e chegas e ter o atrevimento de me aconselhar uma consulta de psiquiatria… (penso que quem está mesmo a precisar és tu) … Já se viu o atrevimento de rires descaradamente, quando falo? Será que não é digno de meditação, no mínimo, as observações que faço quanto a pobreza, lacunas no ensino… oportunistas que têm vários “tachos”, prejudicando outros que também precisam de trabalhar… Pois creio que uma consulta de “aconselhamento” filosófico ficava-te mesmo bem… não percebi ainda é se nessas consultas se tratam de segredos de alcova… Por essa ordem de ideias, em vez dos simples copos de água, nas bancadas da Assembleia da Republica havia sempre umas caixinhas com calmantes… Obrigada pelo alvitre… e já agora, o tal “ti” ou “tu”, que não és tu seguramente, podes chamar-lhe “Zé Povinho”…
04.10.08
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