domingo, janeiro 30, 2005

ÓDIO, RAIVA, IRA


Um ódio devastador
arrasa meu pensamento,
abala todos os sentidos
e aquela palavra “amor”
que só leva ao tormento
é caminho de passos perdidos...
A raiva que reina no sentir
cheia de ódio e dor
mergulha dentro de nós
fazendo em ondas repercutir
que não são sentidos d’amor
ou lágrimas surdas, sem voz...
E toda a ira em explosão,
como em guerra declarada,
deixa-me minada de revolta
porque a razão não tem razão
nem poderá ser explicada
porque apenas é pássaro à solta...

20.01.005

quarta-feira, janeiro 26, 2005

PÁGINA ZERO!

Podes fugir, se pretenderes.
Deixares até de me falar.
Ignorar-me, se o desejares,
mas nunca proibir de te amar...


Tudo o quanto escreveres,
ambiguamente explicitado,
sem palavras, é para me dizeres
que não queres ser meu amado...


Podes esquecer aquele beijo
de mel amargo que me deste
e até odiar todo o desejo


que à força querias esconder,
porque sem querer, já perdeste
quem por ti acaba de morrer...


26.01.005

terça-feira, janeiro 25, 2005

DIÁRIO


Absurdo, mas maravilhoso
o sentir um afago tão desejado,
o terno sussurrar tão amoroso.
Encontrar no fundo do abismo
o que ainda não fora encontrado...
E sem sombra ou sofismo,
em gesto louco, apaixonado,
receber a mais bela flor
colhida no campo, a preceito,
para a colocares com amor,
muita ternura, em meu peito....

Não esquecerei esta nesga de tempo
nem tão pouco a sua brevidade
porque para sempre, em pensamento,
será como um prémio de alegria.
Percebi quanta sinceridade,
quanto pode haver de magia
no simples gesto de dar uma flor,
na mão que aperta a mão,
num todo de beleza e de verdade,
na plena magnitude do amor
e que não foi sonho nem ilusão......

24.01.005

domingo, janeiro 23, 2005

Dia 23!

A bruma cobre toda a paisagem
como um manto de tule branco.
Ao longe, árvores parecem miragens,
sombrias imagens de um sonho...
Uma melodia suavemente envolvente
cria uma atmosfera de fantasia.
Desfiam recordações do presente
cheias de mentira e hipocrisia,
de falsa ilusão do belo-medonho.
Vibram olhares sem significado,
mãos que não se enlaçam nem cruzam,
mas acenam promessas sem sentido...
... continua “la vie en rose” a tocar…
e aquele velho delírio doído...
não deixa que pare de te amar...
Tão distante no tempo fica o Sol
que nossas sombras beijava,
quando, na esquina do passado
com um até sempre que não voltava...
mas que me deixava um amargo sorriso,
para não veres que chorava...
e nesta tarde fria e brumosa
alegre, triste e saudosa,
no tempo, sem tempo serás meu amado...
Lápide que as intempéries tem descorado...

23.01.005

sexta-feira, janeiro 21, 2005

DESABAFO!


Deixai que abram as portas
para a Morte passar.
Deixai-a entrar!
Que entre,
que me tome em seus braços
me abrace e me leve...
Deixem abertas as portas
para eu com a Morte partir.
Saiamos!
Prefiro ir a ficar.
Troco o Mundo pelo nada:
A Morte!
Mas prefiro ir a ficar.
Deixai por aí a monte
esse “mundo” infame
de rebeldes, de capitalistas infelizes...
e vou com a Morte...
À saída, uma chuva de
mimosas flores brancas cairá,
E eu, de tules,
nos braços da Morte,
irei para não voltar...

17.05.65

REFLECTINDO


Talvez, pensando melhor,
não quisesse que se lesse
o quanto escrevo no tempo...
Talvez assim evitasse
que fosse pensado o pior,
que a minha escrita intemporal
fosse para quem amasse...
sem retorno ou forma igual...
Talvez até evitasse o denegrir
de um tão belo sentimento,
ou nem obrigasse a mentir
fazendo qualquer mau julgamento...
Quem dera fazer viver
quem a ponte atravessou
e me deixou a sofrer...
Aquele amor assexuado
apenas veio e passou,
como pássaro que voou...
sem deixar de ser amado...
Talvez, pensando melhor,
deveria partir para o “além”
esquecendo o que é amor
e mesmo para lá da ponte,
ver, olhar, mas com desdém...
Pobres dos tristes pensantes,
ao idealizarem ser donos do sonho
que nunca foi, mas vai e vem,
como vagabundos errantes....
Fica o até sempre da partida
daquela que te foi querida,
e um dia quiseste e não te tem.......

20.01.005

quinta-feira, janeiro 20, 2005

TRISTE SORTE !

Cheira a flores murchas e secas
e a velas que ardem lentamente.
Paira no ar o cheiro da Morte
que vem de mansinho, triunfantemente
apontando a quem saiu a sorte.


Vem esbelta e elegante, sorrindo,
de mãos esguias, com gestos lentos
Vem toda de branco vestida.
Olhos semicerrados, escondendo os pensamentos
Como quem, com saudade, está de partida...


Entre a fumaça pálida das velas
e o cheiro mortiço das flores
jaz a companhia da Morte
para quem já não há mais amores
e apenas no peito aquela sorte...




2001




A ARTE DE SONHAR SER


Poucos sabem que o sonho
Está sempre presente na vida
Que é concreta e definida
Como uma árvore qualquer
Ou este vaso de barro
Por onde meus avós beberam,
Como o Mar onde eles navegaram
Entre serenos ou terríficos sobressaltos,
Como os choupos tão altos
Que com o vento se agitam
Como nossas mentes gritam
Em “pielas” de ciúme...


Poucos sabem que o sonho
É álcool, é espuma, é veneno
Por vezes agressivo e pequeno.
É bicho de focinho pontiagudo
Espicaçando todos e tudo
Num constante movimento.


Poucos sabem que o sonho
É um pincel, muitas cores e tela,
Um pedestal com uma mulher bela.
É um jardim florido
Pintado de verde garrido
E até melodiosa sinfonia
Enchendo todos de magia.
É vento que sopra do norte

gritando por aquela morte
que não se pára de recordar
mesmo sem nela se falar.


No mapa da imaginação
há rios de amor e paixão
há barcos e aviões,
destroços de corações.
Há esperanças sem fim
dos dias “sim”
em que o dinheiro combina
com poder, com ordem e menina
e os cones de vento
indicam a direcção do pensamento
e a esperança traz afazeres
e estes dão os prazeres
que num ai se vão
como uma noite de luar.


Poucos sabem e pensam
que a sonhar se vai vivendo
e sempre que sonham
o Mundo sofre mutações imensas
como um arco-íris colorido
entrelaçado nas nuvens cinzentas...
2003

HOJE

Hoje, esta noite aqui estou,
escrevendo, em ti pensando,
E com tempo dizer quem sou
e quanto te estou amando....

É loucura, não vou mentir,
mas é a mais pura realidade...
e nem sabes o que é sentir
esta tão triste verdade...

Podes rir-te, fingir, ignorar,
mas a verdade é só esta:
é a verdade que me resta...

E neste tempo que deixo passar,
és livre de pensar na loucura
de te amar com tal ternura...

19.01.05