sexta-feira, março 31, 2006

O DIA 22 DE MARÇO

Por um instante acinzentou-se o que via. Não vi nada. Melhor dizendo, lembrei teu nome e balbuciei-o, mas caí no escuro por longos segundos.

Quando se fez claridade na minha mente e visão, lá estava a enfermeira a distribuir, pelos tubos de ensaio, o sangue vermelho escuro que havia acabado de me sugar…

Sem qualquer alimento, apenas me comecei a lembrar de uma fofa torrada amanteigada… mas cheia de náusea, tinha de continuar em jejum, pois a TAC estava marcada para daí a duas horas…

Saí do laboratório e durante uma hora caminhei. S.O.S.! Estou mal! Rodopiavam os carros avenida acima, avenida abaixo. Os vermelhos dos semáforos pareciam pequenos diabinhos a fazerem fosquinhas. As sirenes das ambulâncias soavam-me a gritos esganiçados, numa acusação persistente, de uma culpa que não tenho: ser eu!

Apressei o passo quando passei por uma avenida onde está instalado um qualquer ministério e um dos dois policias à esquina, estava armado com qualquer coisa parecida a uma arma de guerra… e lembrei-me do sibilar das balas e o baque de um estalido estranho… lembrei-me de tanta coisa! Mulher coragem, hoje feita idiota, colhendo os frutos da árvore que nunca plantou… chorando uma saudade do que nunca aconteceu…

Já na sala de espera do centro de diagnósticos onde faria a TAC, veio o auxilio e logo de seguida ouvi chamarem pelo meu nome e lá fui, depois de assinar uma folha de papel onde não autorizava que me ministrassem um determinado medicamento injectável por causa das minhas alergias. Fizeram-me deitar numa maquineta para além de uma porta onde havia um aviso que dia “Radiações”. Estava feita…

Zum…zum… e depois já esta! Até me assustei (aliás como em mim é normal), quando me soltaram a cabeça, que havia sido amarrada, para não deslizar (ou para eu não fugir…).

Finalmente a tão apetecida torrada! Soube bem, embora comesse para satisfazer o estado de enfraquecimento e não por prazer. Aliás, como por necessidade.

Mais uma bica e aí irei de novo, caminhando até à hora do cumprimento da minha tarefa.

Não me apetece ir dar aulas, mas os meus seniores precisam de mim, forte e sorridente e a fornecer-lhes uma dose de auto-estima, que não tenho para mim…

Espero pelo final da tarde para carregar baterias, para os dias seguintes…

Às vezes nem se consegue ter a percepção de quanto é importante uma palavra terna, para nos ajudar a carregar os fardos que diariamente transportamos de um lado para outro… e há tanta gente com uma importância desmedida em relação a outros, sem que tenha sensibilidade para se aperceber disso…

22.03.06

1 comentário:

Leonor C.. disse...

Minha amiga, depois de um dia tão acidentado gostaria de ter estado consigo a comer a torradinha. Talvez conseguisse fazê-la rir, quem sabe...
Pela minha parte agradeço todo o carinho e paciência que tem dedicado aos seniores, especialmente a uma aluna como eu que se balda aos testes...
Thank you