segunda-feira, fevereiro 19, 2007

PARADOXOS A AZUL

Uma densa poeira parda espalhou-se em meu redor, quando todo o meu ser implodiu, depois da leitura das muitas palavras que deixaste escoar, em um dos teus escritos. Poeira fina que mais parecia um banco de nevoeiro deslizando pelos vales, deixando tudo opaco, como que sem vida.

Mentalmente passo em revista todos os comportamentos que tive e todos os que poderia ter tido; não foram mais do que consequência de outros por ti encenados, para justificar o que não tem justificação… justificações éticas, como se os sentimentos fossem regidos por qualquer ética…

É sempre precário o equilíbrio entre o que está certo ou errado à luz da visão do que queres, ou não queres ter, em todos os momentos. Momento que apenas são os que queres que sejam, ou não, manobrando a vontade, como se estivesses a manobrar o leme de uma embarcação, para se livrar de um obstáculo à deriva, em pleno mar alto…

A sequência das palavras que dispões a belo prazer, têm como único propósito magoar; ferir até que jorre sangue vivo, que bebes em taça, a brindar ao desgaste que causaste e dando a beber o veneno escorpiónico, escorrido de beijos suculentos, que enganadoramente servem de manjar a sonhos rebeldes, de seres deambulantes entre a solidão e o desgosto da perda, de amar e ser desamado…

A insatisfação brilha em ti e o eloquente silêncio com que dizes o que não queres dizer, aniquila qualquer paciente humano, que nada mais procura do que aliviar a sua solidão, dando os restos de um amor moribundo, fechado numa decrépita estrutura, que agora, acabada de destruir, pairará no ar feita poluição, sem nunca ter podido dar prova do que poderia ter sido ou do que jamais poderá ser…

Deixaste em meus ouvidos o som melodioso das ondas pequeninas que beijam o Tejo, numa fantasia de vai e vem, como que massajando um rosto gasto por prantos incessantes de tanto tempo, sem que o que tanto desejava ouvir, fosse dito…

Deixaste em meus olhos o brilho das cores do arco-íris, que se esfumou entre duas chuvadas, onde os sonhos se afundaram também e agora apenas a poeira em que me vou transformando…

Deixaste enfim, que desfilassem pela minha memória, todos os momentos que vão desaparecendo comigo… momentos que nunca tive e que sem passarem de sonho, no sonho os vou perdendo…


14.02.07

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