sexta-feira, junho 16, 2006

HISTORIAS QUE A VIDA NOS ENSINA



Uma simples pergunta que deu origem a um elo nas relações entre seres humanos. É verdade!

Agora sei que ela se chama Quelinha e ele, apenas Amor…

Os horários dos comboios sofreram alterações em consequência de ser feriado. Quelinha pediu-me para lhe explicar porquê não havia o comboio do costume. Acrescentou que estava ainda em convalescença de uma grave depressão e por essa razão se confundia e entrava em stress tão facilmente.

Percebi desde logo que tinha uma sede imensa de se abrir e falar. Precisava de alguém que aceitasse o que fazia e de como o fazia e o que a levava a fazê-lo.

Choramingou. Não deixei. Dei-lhe toda a força. Toda a que não sinto em mim, mas que de não sei bem donde, consegui fazê-la sorrir, quando a minha alma chora torrentes de lágrimas, que apenas se perdem no meu peito, porque não existem ombros solidários.

Tentei dar segurança e criar autoconfiança em Quelinha, que receava não ser capaz de acertar na estação onde haveria de sair.

Tocou o telefone dentro da mala dela e respondeu com um “Amor”, que estava acompanhada e apoiada. E assim foi, até a ter entregue nos braços do seu “Amor”.

Quelinha contou-me ser casada, mas que desde os trinta e dois anos, o marido, que sofrera um acidente vascular grave, derivado a um tumor cerebral e desde essa altura, apenas era um bebé. Passam entretanto trinta e três anos…

Depois contou que tipo de medicamentos toma diariamente, quem são os seus médicos e como conheceu a pessoa com quem se ia encontrar.

E o comboio chegou à estação para onde íamos. Descemos e de novo o telefone tocou. Disse-lhe onde estava e que eu a acompanhava. Ele chegou. Um homem já meio idoso, aliás, como Quelinha e muito bem parecido e tão gentil…

Formavam um par perfeito e lá seguiram, enquanto eu me afastava para seguir para onde ia.

O resto do dia decorreu sem incidentes e nunca deixei de pensar naquela mulher e naquele homem, que sem deixarem de respeitar os seus compromissos, partilhavam um carinho belo e ternurento, que lhes vai dando força para continuarem vivos e com coragem para enfrentarem os revezes das suas vidas.

Esta lição de vida permitiu-me ver com certa lucidez o que me preocupa muitas vezes, porque o preconceito de certas teorias acaba por atrofiar o que mais belo temos dentro de nós – o Amor!...

13.06.06

3 comentários:

Leonor C.. disse...

Como eu gostei desta história!Não existem ombros solidários? Talvez... Mas existem homens chamados Amor!

Leonor C.. disse...

Foi bom vir até aqui para ler esta história de amor que me comoveu.
Quelinha e o homem Amor - uma canção a uma voz.

jorgeferrorosa disse...

Histórias e histórias da vida. Quem as não tem? !
Muitas.