Cheguei ao varandim e vi uma multidão aglomerada lá em baixo. Detive o olhar e vi um milhão com a mesma expressão. Um olhar vago e perdido. Outro milhão deixava transparecer uma tristeza sem limites e ainda outro mostrava uma expressão de expectativa… afinal eu não estava só entre aquela multidão…
Saí da varanda e sentei-me em frente ao espelho e tentei falar com aquele ser que se sentava à minha frente e perguntei-lhe porquê tudo isto? Porquê temos de procurar sem ver e ver sem observar. Porquê não aparece frente a frente de cada um de nós o outro ser certo, correspondente à outra metade. Porquê vagueiam os nossos olhos entre multidões e não conseguimos nada mais do que ver quem não nos vê?
O tempo que passamos a olhar é uma medida incomensurável. É uma eternidade… e nada vemos… apenas olhamos e nada se detém na nossa visão…apenas na nossa recordação… e longínqua como a eternidade que nos separa da realidade.
Todos já passámos por o alguém que nos poderia deter, mas não reparámos e esse alguém passou, quase despercebidamente…para depois ficar apenas na lembrança… nada de nós deixou uma marca que fizesse deter esse alguém, que o fizesse estremecer, que o fizesse sentir o eco do nosso pensamento… mas é assim… há que não parar e por isso me levantei, arrumei a cadeira e voltei ao varandim… mas não havia mais ninguém na praça. Dispersaram-se, perderam-se nas ruas e vielas e eu vou continuar a ouvir a passarada que numa algazarra infernal disputando os seus ninhos, no arvoredo do parque…
A tarde vai descaindo, cinzenta e chuvosa e para que não morra de tédio, vou escrever umas linhas ao som da chuva que resvala pelo mármore da varanda. Vou recordar, como todos os que estiveram na praça, aquele amor que por mim passou e eu não vi, por ter os olhos na direcção errada…
16.06.06
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Mesmo estando na direcção errada, nunca deixe de sonhar. Será que a outra metade existe?
Obrigada pela sua amável visita.
Vou continuar a passar por cá.
Bjs.
Enviar um comentário