sexta-feira, outubro 13, 2006

EU, O ELEVADOR DE SANTA JUSTA E O RESTO…


Desci o Chiado. Desci a rua do Carmo. Olhei o imponente elevador, qual deus de ferro, erguido no meio da cidade. Deixei que os olhos subissem toda a estrutura. Parei o olhar no topo e sem pensar, pensei subir e descer em mergulho.

Que loucura! Suicídio! Não seria justo suicidar-me do alto de um monumento. Que espectáculo!... Mas sujeitar tanta gente a ver as múltiplas partículas de mim, ao redor de algo tão belo… não! Não seria coerente com o que penso – respeitar o que é belo.

Mais meia dúzia de passos e desemboquei no Rossio. Muita gente! Muitos espanhóis. Conheci-os pela fala; gentes de outras línguas, mas não dei atenção. A multidão em trajes ainda estivais, mais fazia lembrar o fim do verão.

Por momentos, as ideias suicidas, vaguearam, como que esquecidas, no turbilhão de outros pensamentos.

Acabara de dar uma aula a cinquenta e cinco alunos seniores. Deveria ter a auto-estima elevada, depois de tantos elogios no final do tempo… quando acabamos de dar uma aula a adolescentes ou a jovens, jamais se lembram de nos agradecer e felicitar pela aula que déramos. Foi maravilhoso!

De repente, o telemóvel tocou no fundo da mala… parecia um som proveniente do além. Não atendi. Ainda bem, porque não conhecia o número. Ficaria ainda mais desiludida… afinal, partilhar o que me satisfaz ou que me preocupa, é algo que tira a paz a quem nos preenche todos os momentos do pensar… mas para quem apenas nada existe, a não ser ? ?

Que fique em paz quem assim o deseja. Eu também hei-de ficar, mesmo que para isso concretize esta ideia fixa. Mas não devo!!! Mas morrer assim tão lentamente… para deixar que fique em paz…

Ninguém merece, cá ou lá, que façamos oferta da nossa vida. Ninguém é digno de dispor dos nossos sentimentos, brincar com as nossas emoções, como quem joga cartas e depois, friamente, dizer que quer ficar em paz.

Saí da rua e fui para o Metro. Do Metro apanhei o comboio e caminhei, caminhei até chegar ao meu canto, ao meu esconderijo, ao âmago de todos os meus segredos… e fui, noite fora, para a varanda, ver o desenrolar da noite… e sem querer, ver um vizinho, despindo toda a roupa, atrás da vidraça sem cortinas. Acariciou-se, dançou só, voltou a correr as mãos pelo corpo e já em completo tremor, deitou-se no chão e rebolou, esperneando, como se estivesse acompanhado… Voltei para dentro. Eram quase três da manhã!

12.10.06

3 comentários:

Peter disse...

Porquê essa obsessão pela morte? Ela virá quando tiver de vir. Faz parte do ciclo da vida, tal como o nascimento.
Já paraste na rua a ver as nuvens? Eu faço-o muitas vezes. Olho o que me rodeia como se fosse a última vez e sorvo a vida até à última gota.

Anónimo disse...

Quanto mais tarde melhor... Não gostei desses pensamentos. Nem a brincar!

Bjs

Anónimo disse...

para ke desejar a morte?... esses pensamentos ja parecem da Florbela Espanca...

bjinhos e tira isso da cabeça!