terça-feira, agosto 28, 2007

“FUMOS”


Deixei de fumar! Mentira! Verdade?!

Sim! A verdade é que ao parar de fumar, fi-lo com o propósito de não incomodar. O pensamento direccionado ao bem-estar dos que tinham significado na minha vida e faziam desejar que se sentissem bem perto de mim e também o constante recordar do momento belo que vivi e não seria justo não o repetir. Mas aquando a desilusão se apossa, um cigarro é como que uma dupla vingança. O sabor amargo depois de um cigarro, é o castigo por não merecer o beijo idealizado… eis que funciona como uma verdade/mentira.

Quantas lágrimas retidas atrás do fumo de um cigarro… quantos desesperos afundados na cinza de um cigarro ardido… quantas frases não ditas e dissimuladas numa beata amachucada com fúria… tanta angústia dançando entre a espiral de fumo de um cigarro ardendo e perdendo-se no todo…

Quanta escrita inspirada na chama oscilante que acende um cigarro… Quanto ódio! Tanta raiva e desespero… por nada! Por ninguém… apenas por um silêncio tumular, por uma indiferença… por nada!

Não podendo ser razão, é muitas vezes uma razão forte, para quem tendo deixado de fumar, volte a pegar num cigarro, como forma de por cada um, pisar obstinadamente o que sobra, como que se desfazendo todo o seu sofrer…


27.08.07

sexta-feira, agosto 24, 2007

Muros!


Há dois dias, no jornal Público, li um artigo de Joaquim Jorge, o nosso Biólogo do Clube dos Pensadores, que faz o favor de ser meu amigo e que me “assanhou” a vontade de escrever também, dentro do mesmo tema - Os muros deviam ter acabado com a guerra fria.

Assim dissertarei desta forma:
Antes, muito antes do muro de Berlim, outros, tantos outros existiram, mesmo que para isso não se tivesse usado cimento, pedras ou simples paliçadas… e muitos outros irão aparecendo, se muito de dentro de cada um de nós, não se for modificando…

A finalidade com que se criam muros, tem sempre a ver com separações, com o impedimento de misturas, de defesa, ou apenas por se considerar que um muro salvaguarda qualquer tipo de intrusão. Quando se erigem muros, esquece-se que o pensamento é o único espaço que não permite muros físicos e que o que se pretende preservar, é tão frágil com muros como sem eles. Até mesmo os muros ideológicos têm a sua fragilidade.

Os tais muros invisíveis, esses que em cada um de nós, edificamos para manter a nossa teimosia, para criarem uma sombra tão distendida, quanto a nossa obstinada forma de analisar certas situações o pretenda, são a remota origem de por aí se criarem utopias e porque se vive muito no “faz de conta” e se mostra o que se não é… e até nos permitimos “inventar” desculpas para a nossa postura, e posturas para justificar as nossas acções.

Os tais muros (físicos) de pedra, cimento e ferro, têm como objectivo um tempo indeterminado, mas a sua temporalidade está na razão directa com a mutação que os visados vão sofrendo, permitindo-lhes “saltar” o muro. Tudo é efémero!

Terá de haver um destruir de muros, devendo começar por cada um de nós. Afinal, qual de nós é que não tem o seu muro? Quando o muro é de fraca resistência, chamamos-lhe barreira e essa é a forma muito ligeira de justificarmos que A ou B são isto ou aquilo, que este ou aquele procede de forma que não nos convém… estigmatizamos políticos, financeiros, prostitutas ou prostitutos, homossexuais ou lésbicas… somos segregacionistas dentro da nossa categoria de “animal gregário”…

Mais ou menos directa ou indirectamente damos o nosso aval às faltas de planeamento, ao não querer ver a longo prazo e incendiamos com dúvidas o nosso horizonte e temos medo de crescer, de sermos grandes e de mostrarmos que somos válidos e responsáveis, para não se ferirem susceptibilidades… apenas da palavra se faz estandarte e este ondeia ao vento… mas, muitas vezes é mesmo de nós que temos medo. Temos medo de encetar uma nova vida, temos medo de dizer que amamos, temos medo de morrer… edificamos os nossos muros culturais entre tabus e muitas vezes em obscurantismos.

Um dia destes o nosso muro vai ser tão alto quanto longa é a muralha da China… é verdade! Quantas mais dificuldades se criarem para que cresçamos, para que viajemos, para que satisfaçamos as nossas necessidades biológicas, emocionais, económicas e culturais, maior será a nossa ignorância e essa é a maior muralha que nos cerca…

Se a contenção que os muros criam é temporal e não definitiva e se são vulneráveis, porque se vão construindo outros e outros? Assim, um dia nunca desaparecerão…


24.08.07

quinta-feira, agosto 23, 2007

“HOJE, SEMPRE…”



Hoje, assim como ontem, continuo a questionar-me porquê sinto tanta curiosidade em conhecer a comunidade humana onde estou inserida. Questiono sobretudo os valores que movem cada pessoa a estar ou a ser como é ou está.

Obviamente, a minha curiosidade não infere na forma como agem e reagem, mas sim, aguça a minha procura no desvendar das causas que as leva a proceder desta ou daquela maneira.

Podes achar ridícula esta minha pretensão, mas, apenas me martela o pensamento e isto desde que me lembro de mim… há tanto tempo…

Por tudo o que tenho estudado e pelo que leio, vou extraindo conclusões, mas, são minhas e nada me certifica serem verdadeiras.

Contemplo a verdade, como se esta fosse a mais esguia e incomensurável torre, de uma qualquer Catedral, em um qualquer canto do mundo. Mas a verdade nem sequer é verdade, conforme a aprendemos aquando crianças, para nos obrigarem a relatar, sem omissões, o que ia pelas nossas almas… até havia que confessar confidencialidades do nosso pensamento, sob pena de não vivermos em pecado…

Mas voltando à minha contemplação – verdade – não posso deixar de sorrir, porque, por mais bela que pareça a palavra, nada significa, a não ser o que nós queiramos. A minha verdade não é a tua, nem a tua é a minha ou de qualquer outro ser, mesmo daqueles com quem convivemos mais assiduamente. Eventualmente, pode existir mais um, dois ou mil, em que a mesma verdade os bafeje, mas nem por acaso se cruzarão uns com os outros.

A verdade é a utopia com que nos embriagamos, para que a nossa imaginação crie imagens de felicidade, que não é senão outra utopia.
Verdade e felicidade, imaginamos nós, são ingredientes (utópicos) para que vivamos bem (felizes) …

Ainda outra palavra que angustia a nossa existência, é a palavra omissão. Não passa de uma forma falsa de faltar à verdade…

Não queria, propriamente chamar-te, descaradamente, omisso, mas não encontro nada que possa substituir… e essa forma de estar, que ultrapassa a minha capacidade de entender-te, faz-me amar cada vez mais e com mais dedicação, a pesquisa da formula (secreta) para te esquecer…

Quantas vezes, a nossa verdade é uma afronta para quem se vê dentro de outros parâmetros…

Talvez a minha verdade seja tão despropositada que nem mereça ser observada e dado isso, a tal pesquisa da formula secreta, seja desnecessária, pois o que não tem razão de existir, inexistente é…

Tão importante quanto a palavra, é o gesto. Mas este também pode ser traduzível, conforme o interlocutor… o mais afável gesto, pode estar a omitir o seu verdadeiro significado tal como um gesto amoroso pode esconder mil e uma formas enganadoras… muito embora o Homem seja um animal gregário, inventa sempre uma maneira ardilosa de ser pouco ortodoxo no seu relacionamento com o seu semelhante…


28.07.07

sábado, agosto 04, 2007

“DESABAFO DE RAQUEL”


Briga! Foi o que pretendeste. Tens plena consciência de que me magoaste propositadamente, para existir um pretexto palpável para fugir. Fugiste porque o medo te assaltou e não queres encarar a realidade dos factos e preferes, orgulhosamente, vitimar-te com o que não existe. Sabes que sei quanto baste para perceber isso mesmo, mas que nunca pretendeu ser obstáculo ao que sinto. Usas-me como se fosse um toalhete, que se joga fora, depois de utilizado.

É a perfeita forma de agir de um psicopata! (pensei de mim para mim).

Raquel, contou tudo isto e mais, intercalado de soluços e lágrimas e confessou que o amava demais, para aceitar pô-lo fora da sua vida.

Era uma mulher destruída, de baixa auto-estima e com um olhar triste, quase ausente, como o de um moribundo.

Ouvi. Ouvi atentamente, com carinho e respeito por uma pessoa que me pareceu necessitar mais do que ouvi-la, precisava de força e paz, para decidir sobre o futuro incerto que se lhe apresentava…

Não aconselhei. Aliás não seria o meu papel. Ouvi e tentei transmitir a coragem que lhe faltava, para que decidisse de acordo com o que seu eu lhe pedia… mas muito dentro de mim, apeteceu-me dizer-lhe que mandasse para os confins do esgoto, aquele traste…



04.08.07