sexta-feira, agosto 24, 2007
Muros!
Há dois dias, no jornal Público, li um artigo de Joaquim Jorge, o nosso Biólogo do Clube dos Pensadores, que faz o favor de ser meu amigo e que me “assanhou” a vontade de escrever também, dentro do mesmo tema - Os muros deviam ter acabado com a guerra fria.
Assim dissertarei desta forma:
Antes, muito antes do muro de Berlim, outros, tantos outros existiram, mesmo que para isso não se tivesse usado cimento, pedras ou simples paliçadas… e muitos outros irão aparecendo, se muito de dentro de cada um de nós, não se for modificando…
A finalidade com que se criam muros, tem sempre a ver com separações, com o impedimento de misturas, de defesa, ou apenas por se considerar que um muro salvaguarda qualquer tipo de intrusão. Quando se erigem muros, esquece-se que o pensamento é o único espaço que não permite muros físicos e que o que se pretende preservar, é tão frágil com muros como sem eles. Até mesmo os muros ideológicos têm a sua fragilidade.
Os tais muros invisíveis, esses que em cada um de nós, edificamos para manter a nossa teimosia, para criarem uma sombra tão distendida, quanto a nossa obstinada forma de analisar certas situações o pretenda, são a remota origem de por aí se criarem utopias e porque se vive muito no “faz de conta” e se mostra o que se não é… e até nos permitimos “inventar” desculpas para a nossa postura, e posturas para justificar as nossas acções.
Os tais muros (físicos) de pedra, cimento e ferro, têm como objectivo um tempo indeterminado, mas a sua temporalidade está na razão directa com a mutação que os visados vão sofrendo, permitindo-lhes “saltar” o muro. Tudo é efémero!
Terá de haver um destruir de muros, devendo começar por cada um de nós. Afinal, qual de nós é que não tem o seu muro? Quando o muro é de fraca resistência, chamamos-lhe barreira e essa é a forma muito ligeira de justificarmos que A ou B são isto ou aquilo, que este ou aquele procede de forma que não nos convém… estigmatizamos políticos, financeiros, prostitutas ou prostitutos, homossexuais ou lésbicas… somos segregacionistas dentro da nossa categoria de “animal gregário”…
Mais ou menos directa ou indirectamente damos o nosso aval às faltas de planeamento, ao não querer ver a longo prazo e incendiamos com dúvidas o nosso horizonte e temos medo de crescer, de sermos grandes e de mostrarmos que somos válidos e responsáveis, para não se ferirem susceptibilidades… apenas da palavra se faz estandarte e este ondeia ao vento… mas, muitas vezes é mesmo de nós que temos medo. Temos medo de encetar uma nova vida, temos medo de dizer que amamos, temos medo de morrer… edificamos os nossos muros culturais entre tabus e muitas vezes em obscurantismos.
Um dia destes o nosso muro vai ser tão alto quanto longa é a muralha da China… é verdade! Quantas mais dificuldades se criarem para que cresçamos, para que viajemos, para que satisfaçamos as nossas necessidades biológicas, emocionais, económicas e culturais, maior será a nossa ignorância e essa é a maior muralha que nos cerca…
Se a contenção que os muros criam é temporal e não definitiva e se são vulneráveis, porque se vão construindo outros e outros? Assim, um dia nunca desaparecerão…
24.08.07
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