domingo, novembro 12, 2006

11.11.06


Um sorriso! Mas o que é o sorriso? Questiono-me muitas vezes sobre o sorriso. Olho em volta e quase não há ninguém com os lábios sorridentes, com os olhos sorridentes… há sim, um painel de olhares distantes, com uma profunda tristeza lá bem no fundo, e os lábios, bem cerrados numa atitude hostil, triste, até desesperada…

Passeio o olhar por quem me rodeia e sinto que toda a tristeza que me invade, não pode ser transparecida e sorrio… Sorrio porque o sorriso que deixo deslizar pelo meu rosto, é um gesto de simpatia, quando não de amizade, pois que há uma carência absoluta de amizade, entre as pessoas.

As primeiras quatro horas de formação passaram e devo acrescentar que o conteúdo foi magnífico. Começámos com o habitual quebra-gelo, apresentando-nos, falando um pouco de nós e falando de perdas que nos marcaram pela vida fora.

Falou a Margarida primeiro, porque estando a sala armada de mesas em U, ela senta-se na ponta direita, o que significa que eu a última, por estar sentada na ponta esquerda…

Chorei. Chorei porque passei em revista todas as perdas da minha vida, algumas tão dolorosas, que seria impossível não me comover ao recordá-las e falar delas… Estamos num ambiente de Psicologia, por isso, há uma interacção muito positiva entre todas nós. Senti-me apoiada e acarinhada… afinal, cada uma de nós fez uma regressão ao passado…

Recordei que, já no próximo dia 17, vai passar mais um aniversário de uma das grandes perdas de toda a minha vida… E falei da ansiedade de afastamento que estou a atravessar, pela distância física, de uma marca definitiva no que resta da minha vida…

Quão estranho sentir o que se esforça querer não sentir… é quase contraditório…

Depois, no intervalo do almoço, fui bebendo uma xícara de chá verde e conversando… às vezes sinto-me a conversar comigo, contigo como interlocutor. É estranho, mas sinto-te como a parcela que me faltava, ou que andava perdida… Finalmente encarei, frente a frente, o que não havia admitido antes. Mas não me importuna. Respeito. Devemos ter respeito pelo que sentimos, para não vivermos pesadelos e deixarmos que o sorriso nos morra nos lábios…

Acabou o intervalo de almoço. Agora e até perto das dezoito horas, vamos continuar a falar de separações… divórcios… perdas. Causas, consequências e formas de contorno e acompanhamento de situações mais difíceis…

Quase nem se deu pelo decorrer da tarde. Preferimos não fazer o “coffee brake” e assim sairmos um pouco mais cedo.

Ainda o ouvi dizer que “ela está fina”… (a mana teve a gentileza de perguntar se ainda faltava muito para o meu fim…).

E depois veio a longa e infindável noite… Não interrompi, nem jantar, nem serão, nem boas disposições… eu estava demasiado cansada e demasiado triste, depois de um dia em formação, tão extraordinariamente enriquecedor.


12.11.06 – 01:15

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