Sentei-me na mesa do canto. Pedi um café e encetei o diálogo/monólogo com o amigo do meu avô. Tal como ele havia feito há umas décadas, estava em frente a Fernando Pessoa, no Café Martinho da Arcada, com o caderno de muitas folhas escritas...
O meu avô e Fernando Pessoa, com os seus cafezinhos, com os seus blocos e os seus instrumentos de escrita, iam dedicando às suas amadas, os poemas que fluíam como águas límpidas, em fontes naturais.
Com curiosidade quis saber porquê ambos escreviam, isto porque de ambos li poemas lindos e porque escrevo, mesmo sem sentido, umas palavras que sobraram para mim. Saber porquê os outros escreveram deixa-me apreensiva. Será que a razão é a mesma?
Sábia, filosófica e inédita veio a resposta “ A escrita é a expressão mais eloquente do revelar o que se sente e que os outros não entenderiam se falássemos e que mais tarde, quem vier a ler-nos, irá desmultiplicar o significado e a quem dedicámos a nossa escrita, possivelmente, achá-la-ia despropositada se a lesse dentro da actualidade desse momento…”
À nossa mesa sentou-se a Morte. Deles já tomara conta há muito. De mim, aguardava o momento decisivo…
Assim conversámos. Três épocas. Três estádios diferentes com um elo de ligação comum – a escrita.
A Morte sempre escreveu. Escreveu sobre o adeus, a saudade e a desilusão, porque a vida lhe foi dando o mote… Fernando Pessoa, filosofou sobre o ser que era e os que o rodeavam. Escreveu para fazer pensar. Mas a Morte dizia que eu escrevia a copiar os seus sentires e a usar as suas palavras… como se as palavras não fossem de todos nós…
Tive de confessar à Morte que só o amor era cúmplice da minha escrita; escrevia o que o amor ditava e se ditava desditas, pois então, eram essas as minhas expressões…
A Morte não quis falar de morte. Disse que se viera sentar-se à nossa mesa, fora para falar de vida. Vida ou tempo que nos separa da morte… Fernando Pessoa falou desse tempo e como eu era vida, devia vivê-la com os sonhos que comandam a vida… tinha de a viver porque escasseava o tempo que me restava…
A Morte falou dos meus amores. Disse que quem partira, havia partido em outros rumos e quem ficou, ficou à espera que esquecesse quem fora…
Tontarias da Morte! Quem está não estará. Quem amo é alma prisioneira de outras gaiolas; é pássaro canoro de outras floresta… eu nem direito tenho a separar o que foi do que é, porque o que foi deixou a eterna ilusão de ser o ideal… quem está, questiona quem é e o que é o amor… ainda mantém a total confusão dos sentimentos… de braços abertos vai esperar a divindade de quem recebe inspiração…
Deixei soltar uma lágrima. Como seria sentir palpitar no peito a emoção de escutar uma frase doce?…
Senti a carícia acolhedora da Morte como que incentivando a força que eu já não tinha… Ouvi nitidamente uma voz sussurrar bem perto de mim “beija o teu sonho como se fora a última vez que sonhavas…” Aí, levantei a cabeça, poisei a caneta e reparei que sonhara mesmo e que em outras mesas havia pessoas com sorrisos maliciosos…
12.11.07
O meu avô e Fernando Pessoa, com os seus cafezinhos, com os seus blocos e os seus instrumentos de escrita, iam dedicando às suas amadas, os poemas que fluíam como águas límpidas, em fontes naturais.
Com curiosidade quis saber porquê ambos escreviam, isto porque de ambos li poemas lindos e porque escrevo, mesmo sem sentido, umas palavras que sobraram para mim. Saber porquê os outros escreveram deixa-me apreensiva. Será que a razão é a mesma?
Sábia, filosófica e inédita veio a resposta “ A escrita é a expressão mais eloquente do revelar o que se sente e que os outros não entenderiam se falássemos e que mais tarde, quem vier a ler-nos, irá desmultiplicar o significado e a quem dedicámos a nossa escrita, possivelmente, achá-la-ia despropositada se a lesse dentro da actualidade desse momento…”
À nossa mesa sentou-se a Morte. Deles já tomara conta há muito. De mim, aguardava o momento decisivo…
Assim conversámos. Três épocas. Três estádios diferentes com um elo de ligação comum – a escrita.
A Morte sempre escreveu. Escreveu sobre o adeus, a saudade e a desilusão, porque a vida lhe foi dando o mote… Fernando Pessoa, filosofou sobre o ser que era e os que o rodeavam. Escreveu para fazer pensar. Mas a Morte dizia que eu escrevia a copiar os seus sentires e a usar as suas palavras… como se as palavras não fossem de todos nós…
Tive de confessar à Morte que só o amor era cúmplice da minha escrita; escrevia o que o amor ditava e se ditava desditas, pois então, eram essas as minhas expressões…
A Morte não quis falar de morte. Disse que se viera sentar-se à nossa mesa, fora para falar de vida. Vida ou tempo que nos separa da morte… Fernando Pessoa falou desse tempo e como eu era vida, devia vivê-la com os sonhos que comandam a vida… tinha de a viver porque escasseava o tempo que me restava…
A Morte falou dos meus amores. Disse que quem partira, havia partido em outros rumos e quem ficou, ficou à espera que esquecesse quem fora…
Tontarias da Morte! Quem está não estará. Quem amo é alma prisioneira de outras gaiolas; é pássaro canoro de outras floresta… eu nem direito tenho a separar o que foi do que é, porque o que foi deixou a eterna ilusão de ser o ideal… quem está, questiona quem é e o que é o amor… ainda mantém a total confusão dos sentimentos… de braços abertos vai esperar a divindade de quem recebe inspiração…
Deixei soltar uma lágrima. Como seria sentir palpitar no peito a emoção de escutar uma frase doce?…
Senti a carícia acolhedora da Morte como que incentivando a força que eu já não tinha… Ouvi nitidamente uma voz sussurrar bem perto de mim “beija o teu sonho como se fora a última vez que sonhavas…” Aí, levantei a cabeça, poisei a caneta e reparei que sonhara mesmo e que em outras mesas havia pessoas com sorrisos maliciosos…
12.11.07
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