sábado, junho 14, 2008

DA TRAPEIRA DAS ÁGUAS-FURTADAS


Fui visitar as águas-furtadas da minha imaginação e deixei que o tempo passasse sem que olhasse o marcador do tempo, para que à vontade pudesse desfrutar de todo o tempo que me restava…
Da trapeira, com teias de aranha, olhei a distância que o horizonte me proporcionava e deixei que a greta de luz do sol entrasse e me deixasse ver as muitas palavras que havia deixado, muito alinhadas, naquele tempo, antes de ter partido… e regressado…
Como separador das minhas palavras, sempre o teu nome. O único nome que queria esquecer.
Passei os olhos por tantas palavras e reconheci algumas… foram as que me devolveste em tempo, por achares fora do tempo essas palavras que te dera… mas eram tão sinceras…
Sacudi o pó do banco ao canto, perto da trapeira, e sentei-me com a cabeça encostada na minha imaginação. Com os olhos fechados e numa posição relaxante, fui revivendo todas as etapas que havia guardado em tempos… mas sempre tu presente, mesmo que o não queira…
Aquele poço escuro, de um escuro acinzentado, como se fora o túnel de um vulcão. Muito comprido. Parecia que deslizava no ar, sempre a descer e sem vontade de parar… um sono inexplicável, uma perda de força progressiva… uma vontade a desvanecer como a chama de uma lamparina onde o azeite já se esgotara… era eu!
Longe, muito longe aquele portão enorme. Metálico? Possivelmente. Mas de um verde muito escuro, mesmo muito escuro, como se tivesse sido misturada tinta preta para escurecer o verde…
As mãos abertas encostaram-se ao portão. Será que o queria abrir? Jamais o saberei. De repente, senti-me impelida para o túnel e subi-o, não sei explicar como…
Todas aquelas vozes nada significavam… dormia… estava tudo tão longe… como tu estás agora, que nem pensas como estás em meu pensamento, mesmo contrariando a minha vontade…
Abri os olhos. Os raios de sol que atravessavam a trapeira brincavam na minha cara e voltei a olhar para as filas de palavras alinhadas no outro lado das águas-furtadas… e também recordei algumas palavras que ouvi naquela madrugada “está viva!”. “Sabe? Entrou em coma, mas agora está tudo bem.”
Não quero recordar mais nada. Levanto-me e deixo a minha imaginação só, nas águas-furtadas da minha imaginação, a receber os raios de sol que passam pela trapeira com teias de aranha… vou esperar que me recordes…


14.06.08

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