sexta-feira, setembro 05, 2008

SEXTA-FEIRA!

Depois de um dia acinzentado e ventoso, começou a chover. Gosto da chuva, quando ao de leve cai nas folhas das árvores e plantas e deixa que o som nos embale e acarinhe a nostalgia que estes dias nos deixam…
Chove ainda, depois da noite nos ter abraçado. Chove e choram os meus olhos por uma saudade que teima em entranhar-se por todo o meu ser.
A saudade é uma forma de fazermos sentir dentro de nós quem não está perto. É doloroso apenas sentir distância, quando temos alguém tão dentro de nós, a preencher nossos momentos e todos os nossos pensamentos…
Saudade de alguém, saudade de um lugar, de um objecto que estimámos e que por motivos que desconhecemos nos apartamos dele… é o que sinto quando recordo a caixa de madeira, de dois andares, onde guardava os lápis de cor, quando ainda era muito pequena… Saudade da nogueira, no recanto da quinta que mais me atraia, e que pelos meses de Setembro, em cada ano, me deixava colher as nozes, que ainda meio verdes, me sabiam deliciosamente… saudade das aventuras e das corridas, dos amiguinhos com quem partilhava rebuçados e chocolates, dos cadernos que escondia, cheios de desenhos e muitos versos.
Mas hoje a saudade ainda é outra… é saudade de mim própria… Saudade de correr pela rua fora para apanhar um autocarro, saudade de carregar no acelerador para não deixar que me ultrapassassem na estrada… saudade do que não vou voltar a ter… tardes de lançamento de livros, idas ao café do bairro com o pretexto de escrever, saudade sobretudo da companhia de quem vai deixar de vez de estar perto…. Saudade que consome, que destrói, que causa stress, que gera depressão, que deixa a alma sangrando de dor… e ainda há quem consiga deixar que amizades se percam…

05.09.08

4 comentários:

Maria Clarinda disse...

Há encontros como o nosso, bom dias fugases, um sorriso, um cativar...nem que seja nos momentos de despedida...tanta coisa em comum, que já descobri em si..tão perto fisicamente estivémos... no entanto ficou a magia daquele momento, em que a tal de despedida se fez presença, e, trocadas as últimas palavras sentímos o coração cheio,e...a pena de não termos falado antes.
Voltarei ,para beber cada palavra sua, para ao lê-la recordar o seu sorriso meigo, a sua ternura de olhar.
Obrigada. Jhs

JO disse...

Creio que a saudade nostálgica que bem descreve é um sintoma de que com o tempo o ser humano perde contacto consigo próprio, com o que o fez ser o que é, e logo, sente-se frequentes vezes desenraizado e perdido. Acima de tudo, perde sensibilidade às imensas possibilidades de descoberta, de sensação, de conforto nas pequenas coisas, de deslumbre com o futuro, e de segurança sem o ninho parental.

P.S. Não se acelera quando se é ultrapassado!... Ai o exemplo! :-D

joaninha disse...

Maria Clainda!
Obrigada pelas palavras tão gentis que me dedica. Não as mereço. O importante foi termo-nos encontrado, falado e descoberto tanto em comum. Adorei!
Voltamos a outros encontros por aqui. Beijinhos

joaninha disse...

Olá José Oliveira!
Obrigada pelo comentário. A saudade é realmente uma forma dolorosa de sentirmos a falta de alguém, algum lugar, um objecto ou os nossos animais de estimação. Claro que concordo que se pode perder sensibilidade para outras possibilidades, sobretudo se se tratar de alguém que nos foi querido. Mas o tempo às vezes é miraculoso... ajuda a que a memória esqueça certos detalhes…
Obrigada pelo alerta. Realmente não se deve acelerar quando se está a ser ultrapassado… já me têm feito isso e fico furiosa.
Um abraço.