sábado, dezembro 02, 2006

CHAMAVA-TE TANGO!


Escureceu. A noite veio pé ante pé, coberta de cortinados escuros a esconder a luz cintilante das estrelas. Começou a chover e a noite foi avançando cautelosa e circunspecta. Ficámos sós; tão perto e tão longe. Mas ficámos sós. O escuro da noite sombria e chuvosa e nós.

Deixaste a música entre a noite e eu e tu e a noite. Mas foi tocando e arrebatou-te da usual passividade, permitindo que a tua silhueta sobressaísse do escuro da noite escura.

E o som deu movimento ao estático escuro e num gesto quase arrebatador dançámos o tango que ia escorregando pelo escuro da noite, que prudentemente se esvaía para a madrugada…

E chamei-te tango: Impulsivo, arrebatador, terno e agressivo, prudente e atrevido, penetraste pela noite bem escura e ao som do tango rolámos, deslizamos e não parámos de dançar… mas lá fora chovia e continuava tão escuro…

Durante horas o Tango da Rosa foi meu. Ora violento, ora suave como pétalas de rosa, duma rosa cuja cor nunca consegui ver, porque a noite continuava escura, tão escura que no escuro se ia perdendo como todo o movimento da dança, mas a dança era minha e o tango era meu.

A chuva teimava, ininterruptamente, a querer ser o acompanhamento da música que ora arrebatadora, ora suave, me fazia baloiçar ao seu ritmo: lento, rápido, mais rápido, até à exaustão… por isso te chamei Tango!



02.12.06

2 comentários:

Zen disse...

Gosto do seu blog.

Parabéns escreve muito bem, ou melhor, sente-se aquilo que escreve.

Felicidades.

Anónimo disse...

E a esperança por um pouco apareceu.
Beijinhos Joaninha.