sexta-feira, dezembro 29, 2006

ESTE SENTIR EM PALAVRAS


Procurei incessantemente palavras para expressar o que queria dizer. Não encontrei. Não devem existir. Não há palavras para expressar o meu sentir.

Procurei nos olhares, o meu olhar cheio de nada, para te ver, e não consegui… Não passas do nada para onde olho e não tenho palavras para dizer o que calei. Não por não o saber dizer na altura própria. Talvez por vergonha, talvez por ser demasiado tímida, como consequência dos tabus que a educação impunha por aquela época. Talvez por medo de não acreditares.

Agora, no vazio da agonia em que a minha alma vive, olho sem ver e quero dizer o que o pensamento não articula. Toco as tuas cinzas frias e sinto que deixas um estranho calor passar às minhas mãos. Será que agora só tu entendes o que quero transmitir e jamais o dissera antes?

Muitas vezes a dureza das tuas palavras chocaram-me. Muitas vezes deixaste que, com a cabeça no teu colo, chorasse, mas nunca me deste oportunidade para te dizer quanto te amava. Agora percebes este dilema… como ter coragem de o dizer?

Mesmo não encontrando as palavras que procuro, mesmo não te tendo para te olhar, mãe, dá-me a força que preciso para dizer o que sinto. Para dizer que há dentro de mim um rio turbulento saltitando de rocha em rocha e que em cada momento se despenha como uma cascata… Apenas assim são meus sentimentos, que emudecem e calo o que sinto…

E o que sinto, sem as palavras que necessito para o expressar, fica sem sentido e vai morrer dentro do meu peito. Uma frustração sem limites amarrota-me a alma, que num arfar agonizante, se vai esvaindo num estertor exânime…

29.12.06

6 comentários:

Anónimo disse...

Desculpa mas agora não tenho tempo para ler o post. Fica para amanhã.
Vim desafiar-te para as manias. Se fazes o grande favor vai lá ler as regras e não faças como os outros.
É para fazeres no teu blogue.
Beijinhos.

Anónimo disse...

O prometido é devido.
Gosto de todos os teus textos. Este é particularmente bonito ou toca-me particularmente.
Beijinho e BOM ANO NOVO.

Ant disse...

É tempo de partir para a esfera da ternura. Obrigado pela continuidade do texto nas conversas.
Um forcita minha.
Beijo

Rui disse...

Palavras para quê...

Anónimo disse...

Joaninha

Dizer-lhe que escreve com mestria podia "soar-lhe" para quem não a conhece pessoalmente, uma espécie de cantiga de "falsete", eu arrisco na mesma repetindo-me: "Este sentir em palavras" é de uma grande tempestade criativa! Não deixe é que ela provoque em si muita "erosão" emocional.
Quem nasceu primeiro, o verbo ou o gesto?
Palavras, palavras e mais palavras...

Um BOM ANO de 2007!

Peter disse...

"carne da nossa carne", a perda da nossa mãe será sempre dolorosamente recordada.