terça-feira, julho 29, 2008

A CARTA PARA O CONCURSO


Olá!

Juro que não sei como começar esta carta. Se te chamar meu amor, minha vida ou apenas como a comecei, por um insignificante olá. Mas tenho mesmo de te escrever esta carta e enviá-la, mesmo que nem possa caminhar para a depositar no receptáculo do marco do correio. É premente que a venhas a ler, mesmo que chegue atrasada e já depois do depois… É justo que saibas porque deixaste de fazer parte da minha vida (vida? Será que ainda estou viva?)
Amei-te. Amei-te muito, quer queiras acreditar, quer não. E se algo matou esse meu amor, não foi de mim que partiu, mas apenas e somente de ti.
Aceitei todos os argumentos que expunhas para justificar todas as atitudes que tomavas. Aceitei mentiras, insultos, fingimentos, todos os contornos utilizados para me pôr à prova… Aceitei que te introduzisses nas minhas amizades e passasses a ser amizade de amigas minhas, mas quem te amava era só eu…
Chegou finalmente aquele dia que eu procurava no tempo, para ter coragem de enfrentar a realidade e deixar-te esta carta, não como uma despedida… não tenho palavra para significar isto que quero dizer… mas para marcar um fim neste tempo de amargura, que foi todo o tempo em que te amei… e será que deixei de te amar?
Mesmo nesta dúvida que me deprime, prefiro considerar que deixei de te amar e que o quanto me sinto magoada me faz esquecer que apenas existias como o meu amor… Um dia vais recordar-me… talvez até tenhas muitas mais para recordar…
A última vez que olhei o mármore esbatido e gasto pelos sóis e chuvas que lamberam a pedra, prometi a mim mesma que não mais voltaria e que teria de esquecer… e pelo muito que te amei, e que talvez não venha a esquecer-te, não voltarei, porque nunca me amaste e porque nunca me pedirás desculpa por me teres induzido no erro de te amar…
Queria não mais sentir o fulgor dos teus beijos. Queria que apenas tivesse sido um pesadelo. Queria não sentir a repulsa que sinto agora… sabe-lo porquê.
Jamais houve tempo para te dizer tudo isto, por isso te escrevo esta carta… e nunca esqueças que te amei muito… e perdeste o meu amor… perdeste-me.
Até sempre, porque na eternidade reencontrar-nos-emos.
Adeus!

28.07.08

(concurso “A Melhor Carta de Amor”. Não enviei por a achar ser triste demais)

sábado, julho 26, 2008

A SÍNDROME DE BURNOUT

Toda a gente já ouviu falar de stress e sobretudo, de stress profissional, o qual se caracteriza por ser uma exaustão emocional, uma avaliação negativa de si mesmo, uma depressão e insensibilidade no que respeita a quase tudo e todos (diria que há um mecanismo que funciona como defesa emocional não intencional no enfermo desta síndrome, quanto à insensibilidade perante certos factos ou situações), o que para alguns estudiosos da matéria passou a designar-se como a Síndrome de Burnout.
Burnout é uma expressão na língua inglesa que traduzida significa - burn = queima e out = exterior, fora – sugerindo assim que quem está com este tipo de stress consome-se física e emocionalmente (uma característica é a inferiorização daqueles de quem se diz se amigo(a)) passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço (e existe sempre alguém que se pretende marginalizar).
Esta síndrome refere-se a um tipo de stress ocupacional e institucional com predilecção para profissionais que mantêm uma relação constante e directa com outras pessoas, principalmente quando a actividade é considerada de ajuda, como médicos, enfermeiros, professores e outros.
Há ainda outros estudiosos e autores de trabalhos que nos dizem julgar que esta síndrome é diferente do stress genérico, contudo e como opinião pessoal diria que poderemos considerar esse quadro de apatia extrema e desinteresse, não como sinónimo de algum tipo de stress, mas como uma das suas consequências e bastante sérias.
Esta síndrome foi observada, originalmente, em profissões predominantemente relacionadas a um contacto interpessoal mais exigente, tais como médicos, psicanalistas, carcereiros, assistentes sociais, comerciantes, professores, os que atendem público, enfermeiros, bombeiros e outros com contactos com público que nem sempre seja fácil. No entanto, hoje em dia já se alargaram as observações a outros ramos profissionais como os que interagem de forma activa com pessoas que cuidam ou que solucionam problemas de outras pessoas, obedecendo a técnicas e métodos mais exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho submetidas a avaliações.
A Síndrome de Burnout também está a ser definida como uma reacção à tensão emocional crónica gerada a partir do contacto directo, excessivo e stressante com o trabalho, fazendo com que a pessoa afectada perca a maior parte do interesse na sua relação com o trabalho por forma a que as coisas deixam de ter importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer inútil.
A pouca autonomia no desempenho profissional, os problemas de relacionamento com as chefias, os conflitos entre trabalho e o núcleo familiar, o sentimento de desqualificação e falta de cooperação de equipa, estão entre os factores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout.
Os autores de trabalhos nesta área que defendem a síndrome de Burnout como sendo diferente do stress, alegam que esta doença envolve atitudes e condutas negativas com relação aos usuários, clientes, organização e trabalho, enquanto o stress apareceria mais como um esgotamento pessoal com interferência na vida do sujeito e não necessariamente na sua relação com o trabalho. Contudo, e pessoalmente julgamos que a síndrome de Burnout seria uma consequência mais depressiva do stress desencadeado pelo trabalho, sobretudo no relacionamento interpessoal.
Com sintomatologia básica desta síndrome teríamos, inicialmente, uma exaustão emocional, onde a pessoa se sente a não poder mais dar nada de si mesma, aqui um sentimento de falta de realização pessoal no trabalho, o que afecta sobremaneira a eficiência e habilidade para a realização de tarefas e de se adequar à organização. Seguidamente desenvolvem-se sentimentos e atitudes muito negativas, com o por exemplo, um certo cinismo na relação com as pessoas do trabalho onde estão inseridos e aparente insensibilidade afectiva.
Diria para concluir, que esta síndrome é o resultado do stress emocional na interacção com outras pessoas. Algo diferente do stress genérico porque a síndrome de Burnout incorpora geralmente sentimentos de fracasso cujos principais indicadores são cansaço emocional, despersonalização e falta de realização pessoal (com actos demarcadamente agressivos para os que diziam amigos(as).

26.07.08

quarta-feira, julho 23, 2008

UMA LENGALENGA DE ASSUNTOS…


Não vou resistir à tentação de fazer a experiência que o meu primo fez quando escreveu um livro com muitos textos e nos quais nunca usou os pontos finais nem os outros que temos de mudar de linha porque ele conseguiu despejar tudo o que queria dizer sem usar nada de artefactos como são as vírgulas ou pontos e outros mais sinais ortográficos que até por sinal vão cair em desuso caso nos embrenhemos neste acordo com o qual estou em pleno desacordo porque não tem cabimento dizer que um pacto é um pato ou um fato é um facto porque acabamos por não saber quem anda vestido ou quem vai nu e assim como outras coisas mais que entram em conflito com as minhas maneiras de concordar ou discordar e mesmo a propósito hoje fiquei em pleno desacordo com o prato que comi ao almoço ao qual chamaram pescada com todos e os tais todos eram cenouras e batatas e ainda brócolos e apenas um ovo por isso não eram todos porque o ovo era só um e enquanto almoçava também fiquei confusa porque acho muito mal explicada toda essa “triste novela Maddie” que me parece que tem um cortinado bem espesso a cobrir algo que parece que não se quer ver como muitas coisas que por esse mundo andam por trás dos bancos de nevoeiro e das ideias meio baralhadas dos habitantes deste planeta e em especial os cá deste “cantinho à beira mar plantado” e que se chama Portugal e que começou a existir graças a um senhor que se chamou Afonso Henriques e foi o primeiro rei deste reino que deixou de ser reino porque uns carolas acharam que uma republica era muito mais eficaz do que um reino e vai daí que andam há um ror de anos para mostrar isso e ainda não conseguiram porque não é nada fácil governar um reino ou uma republica onde todo o mundo reclama e nunca está satisfeito com nada e critica após critica sem darem nenhuma sugestão para melhorar toda esta confusão e isto só porque os homens são sempre homens quer sejam reis ou plebeus e nada os fará mudar a sua condição de Homens!


23.07.08

domingo, julho 20, 2008

AS EMOÇÕES E AS CORES


Em continuidade às pesquisas que venho fazendo sobre alguns temas que gosto de actualizar, cheguei a este, sobre as cores e as emoções. Aquando ainda aluna, fiz um teste semelhante, que aliás me deixou preplexa. O actual não me deixou menos preplexa… realmente as cores interagem com as emoções…
Ora vejamos, as cores evocam estados interiores e para entender esta relação entre emoção e cor, é necessário lembrar a já conhecida relação entre luz e cor, simbolizada pelo arco-íris.
A luz afecta os neurotransmissores do cérebro, os quais são os responsáveis pelas mensagens passadas dos nervos para outros nervos e músculos de maneira que a primeira sensação de cor é puramente vegetativa e emocional provocando ódio, amor ou outros sentimentos.
Qualquer análise das reacções humanas diante das cores, deve levar em conta também as influências sociais, pois enquanto o costume no Ocidente é o de usar a cor preta para o luto, há outros lugares no mundo onde se usa o branco para manifestar o pesar pelo falecimento de alguém.
Também e para além dos lutos, interliga-se a cor à sensualidade, à tristeza e a muitos dos estados de alma que vamos atravessando pela vida. Mas sem desviar o conteúdo, fruto de alguma pesquisa, vou deixar aqui o resultado do teste que fiz. Não vou entrar em detalhes, mas garanto que é a exacta tradução do momento em que o fiz:

Como você opera, age, frente aos seus objectivos e desejos:


Exige que ideias e emoções se unam e se mesclem perfeitamente. Recusa-se a fazer quaisquer concessões e a aceitar quaisquer acordos.
Impõe a si mesmo objectivos idealistas mas ilusórios. Tem sido dolorosamente desapontado e despreza a vida, numa auto-aversão que o deprime. Quer esquecer-se de tudo e recuperar-se numa situação confortável e livre de problemas.

Suas preferências reais:

O medo de repulsa e a extrema cautela da sua aproximação tornam-lhe difícil alcançar o grau de intimidade e identificação que deseja.
É incapaz de empenhar esforços para alcançar seus objectivos. Sente-se despreparado, desejando maior segurança, afecto sincero e menos problemas.

Sua situação real:

É infeliz com a resistência que encontra, sempre que tenta afirmar-se. Todavia, acredita que não há muito o que possa fazer, e que deve conformar-se com a situação.

O que você quer evitar:

Interpretação fisiológica: Tensão e ansiedades resultaram de desapontamento emocional. Interpretação psicológica: Uma relação emocional não está mais correndo bem, revelou-se profundamente decepcionante e é agora considerada ligação deprimente. Enquanto que, por um lado, gostaria de libertar-se completamente dessa ligação, por outro, nada quer perder nem correr os riscos de incerteza e de eventual possibilidade de maior desapontamento. Essas emoções contraditórias oprimem-no a tal ponto que tenta ignorá-las sob uma atitude apática e circunspecta. Em suma: Tensão oriunda de desapontamento emocional.

Seu problema real:

A ansiedade e a insatisfação contínua, seja em seus empreendimentos ou nas frustrações emocionais, têm produzido considerável tensão. Reage atribuindo-as à total falta de compreensão por parte de outros e adoptando uma atitude desdenhosa e desafiadora.

20.07.08

sexta-feira, julho 18, 2008

EM DESALINHO


Por vezes, para chegarmos a algumas conclusões sobre um qualquer estudo, temos de aprofundar diversas etapas, para entendermos o ponto inicial do nosso pensamento. Partindo deste ponto, direi que o Ego não é mais nem menos do que a soma dos pensamentos, das ideias, sentimentos, lembranças e percepções sensoriais. Diria mesmo que é a parte mais superficial do individuo, a qual modificada e tornada consciente, tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, mediante selecção e controlo de parte dos desejos e exigências procedentes dos impulsos que brotam do indivíduo. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objectos que possam satisfazer ao Id. sem transgredir as exigências do superego. Quando o ego se submete ao Id., torna-se imoral e destrutivo; ao submeter-se ao superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; (se não se submeter ao mundo, será destruído por ele…)…
Por outro lado temos a emoção que se diferencia do sentimento, porque é um estado psicofisiológico. O sentimento, por outro lado, é a emoção filtrada através dos centros cognitivos do cérebro, especificamente o lobo frontal, produzindo uma mudança fisiológica em acréscimo à mudança psicofisiológica.
Mas peguemos em sentimentos; entre os muitos, aparece o da humilhação que visa essencialmente rebaixar o, ou os outros, quer física quer moralmente, de modo a que este ou estes se sintam anulados. Actualmente, e proveniente de estudos cruzados, temos que esta também é uma forma de bullying.
Ora uma das formas de fazer baixar a auto estima é humilhar. É fazer o outro sentir-se o culpado do acto ou da atitude que foi induzido a tomar. Perspicaz!
Há várias maneiras de humilhar e a mais comum é fazer que as outras pessoas se sintam infimamente pequenas perante o humilhador, que regra geral usa estratagemas inteligentemente estruturados para que de humilhador passe a vítima, quebrando todas as regras que em sociedade devem ser respeitadas.
Há quem designe este tipo de humilhação, por humilhação subtil ou velada. É complexa e subjectiva e muito mais difícil de lidar e prejudicial do que o tipo de humilhação mais comum. A humilhação velada insere-se num gesto, numa frase dita, ou até não dita; está no subentendido, numa simples virgula ou no desdém, ou na indiferença ou ainda no ignorar a existência da submissa (a verdadeira vítima), no fazer com que esta se sinta numa completa inutilidade, dando origem a que um sentimento de isolamento, abandono e impotência, exclusão e humilhação radical seja sentida. O humilhador (a)(dominador(a)) sabe como usar a alavanca emocional que ele(a) bem conhece como sendo a forma mais dolorida para aquele outro ser, que por causa disso se irá sentir o mais desprezível à face da Terra: um ser sem eira nem beira, um ser preterido e isolado, sem chão, sem confiança e de baixa auto estima… vivenciando naquele momento e por tempo indeterminado, por vezes com lágrimas, ora silenciosas, ora invisíveis e muitas das vezes escondidas… porque humilhação dói por dentro e tão profundamente, que o humilhador(a)
Jamais consegue enxergar onde estão as feridas que causou.
Grave é ainda, conclusões referidas sobre o quanto o humilhador(a) é capaz de se aperceber se a sua vítima consegue aguentar mais humilhações, aumentando ou diminuindo a sua actuação, ou se deve parar e abandonar a vítima aos seus desesperantes silêncios, à sua solidão mortificante.
Simples formas de agir no quotidiano das pessoas, podem ter como pano de fundo esta panoramica. Teremos de interiorizar que a humilhação (actualmente bullying – mais a nivel de crianças e adolescentes, mas que se verifica em outros estratos), deverá ser combatida introduzindo a todos os níveis mais profundos conhecimentos de cidadania.

17.07.08

quarta-feira, julho 16, 2008

ALMA…


Procurei por aí e não encontrei em qualquer parte a alma. Todos falam dela. Todos enaltecem os seus valores, lamentam os seus estados, nem sempre de muita paz…
Há quem refira os poemas da alma… alma perdida… elevação da alma… os estados da alma… e até há quem escreva apontamentos da alma e cadernos da alma…
Mas onde está, que faz e porquê não encontro a minha, quando todos falam das suas?...
Pois! Possivelmente a minha não sabe exprimir o que por ela vai… e vai daí, é como se não existisse.
Claro que não teria a ousadia de usar a dita, caso a tivesse, para a fazer de mensageira, se, sobretudo quisesse dar “um pacote de chá” a alguém…
Alma minha! Vagabunda e solitária (por isso não a encontro), não escreve em cadernos nem sabe aceitar umas “patadazitas” que por distracção lhe dão. Reclama! Reclama, sobretudo, a falta de atenção, o espírito de solidariedade e o ser preterida em favor do que está “na berra” no momento. Reclama a falta de sinceridade numa amizade; o desrespeito por essa amizade.
Mas disseram-me que realmente tinha alma. Fiquei espantada. Se a tivesse, haveria outra alma que a entenderia e não a desconsideraria “por dá cá aquela palha”. Mas vou tentar descobrir se ela andará por aí ou não… talvez não a tenha procurado bem…


16.07.08

quarta-feira, julho 09, 2008

SEPULCRO DE PALAVRAS



Prefiro manter-me num silêncio forçado. Prefiro guardar as palavras, prefiro mesmo enterrá-las, elas que se vão atropelando entre desconexos turbilhões de pensamentos, de revolta, de ira, de ódio, de desprezo: sobretudo de incompreensão.

Prefiro silenciar o som dos sucessivos gritos que interiormente vou soltando. Prefiro que me julgues depositada no além da existência e assim possas, de corpo e alma, dedicar-te às delícias que preenchem o teu mundo. E quão distante está o teu mundo do meu!... É pena não perceberes que apenas és o que és: um capricho de apostador.

O meu silêncio não vai permitir que oiças como ecoa, dentro de mim, toda a raiva que em mim fervilha, quando balbucio que não vais fazer de mim palhaça o tempo inteiro. Alguém pode ter ganho mais esta batalha, mas a guerra ainda não acabou… se algum dia existir, talvez me recordes… tardiamente… o tal ar sonso e comovedor pode ter conquistado o incauto, mas não me assusta… aprendi a ver entre as sombras. O meu silêncio é e será a potente arma de defesa.

O silêncio, a indiferença, o desdém com que passarei a olhar-te, ferir-te-ão do mesmo modo que o abandono, a troca, a agressiva forma de te expressares nas constantes referências ao que te desagrada, me agride a mim e como enalteces todo o ser que te amachuca mas por quem estás em plena obsessão… no meu silêncio, as gargalhadas de dor serão forma de esquecer a minha mágoa…

Sabes o que é um embondeiro? É uma árvore muito frondosa, imponente que tem o seu habitat em África… os naturais comparam as grandes figuras a esta espécie, pela sua grandeza e pelo seu porte respeitável. Eu serei o embondeiro, alto, frondoso, distante, que darei a sombra e o apoio…

… e as minhas palavras ficarão em campa rasa na base do embondeiro, para que as oiças, nas noites em que o vento a ulular repita o que sempre desdenhaste…


09.07.08

REDIZER O QUE FOI DITO


Os motivos inventam-se e reinventam-se. A nossa imaginação é incomensuravelmente potente para deixar que temas e mais temas corram como caudais de grandes rios descendo planaltos… e a escrita flúi numa reinvenção constante de cada palavra, com a sua multiplicidade de significados, que vai traduzindo as suposições existenciais, vestindo e travestindo a corrente da nossa fantasia e dando vida ao que não sendo, passa a ser, pela força que o sentir exerce dentro de cada um de nós. E que salutar é esse sentir! Salutar, mas questionável… É vida que nos faz manter vivos e é por isso que adoro escrever e que em cada poema redigo o que já disse e que outros disseram também, porque o sentiram ou talvez não, ou porque o disseram ou o sentiram e de forma diferente da minha.
Poema após poema, com todas as palavras usadas e gastas que faço brotar do meu pensamento, vou permitindo que me acariciem a alma e ao balbucia-los, abandonam nos meus lábios uma doçura igual à dos teus e a que chamo vida.
Mesmo que vás repetindo que a escrita é um jogo de palavras, que me repito e de nada serve o que digo e redigo, não resisto e vou repetindo o que não ouviste, nem leste lá pela terra do nada, que te absorveu e absorve, num constante questionar de tudo e de todos… Tudo é questionável! Mesmo o que é evidente é questionável, por isso, as minhas palavras usadas, repetidas e gastas serão como o eterno tanger dos sinos, não para cantar que te amo, mas para tocar a finados acompanhando o que restou do que nunca consegui dizer, por ter só palavras gastas e questionáveis…

09.07.08