quarta-feira, julho 09, 2008

SEPULCRO DE PALAVRAS



Prefiro manter-me num silêncio forçado. Prefiro guardar as palavras, prefiro mesmo enterrá-las, elas que se vão atropelando entre desconexos turbilhões de pensamentos, de revolta, de ira, de ódio, de desprezo: sobretudo de incompreensão.

Prefiro silenciar o som dos sucessivos gritos que interiormente vou soltando. Prefiro que me julgues depositada no além da existência e assim possas, de corpo e alma, dedicar-te às delícias que preenchem o teu mundo. E quão distante está o teu mundo do meu!... É pena não perceberes que apenas és o que és: um capricho de apostador.

O meu silêncio não vai permitir que oiças como ecoa, dentro de mim, toda a raiva que em mim fervilha, quando balbucio que não vais fazer de mim palhaça o tempo inteiro. Alguém pode ter ganho mais esta batalha, mas a guerra ainda não acabou… se algum dia existir, talvez me recordes… tardiamente… o tal ar sonso e comovedor pode ter conquistado o incauto, mas não me assusta… aprendi a ver entre as sombras. O meu silêncio é e será a potente arma de defesa.

O silêncio, a indiferença, o desdém com que passarei a olhar-te, ferir-te-ão do mesmo modo que o abandono, a troca, a agressiva forma de te expressares nas constantes referências ao que te desagrada, me agride a mim e como enalteces todo o ser que te amachuca mas por quem estás em plena obsessão… no meu silêncio, as gargalhadas de dor serão forma de esquecer a minha mágoa…

Sabes o que é um embondeiro? É uma árvore muito frondosa, imponente que tem o seu habitat em África… os naturais comparam as grandes figuras a esta espécie, pela sua grandeza e pelo seu porte respeitável. Eu serei o embondeiro, alto, frondoso, distante, que darei a sombra e o apoio…

… e as minhas palavras ficarão em campa rasa na base do embondeiro, para que as oiças, nas noites em que o vento a ulular repita o que sempre desdenhaste…


09.07.08

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