segunda-feira, dezembro 24, 2007
24 DE DEZEMBRO
O toque da campainha faz pressupor que é alguém. Tento perceber pelo megafone de quem se trata, mas nada. Abro a porta e parece-me que rostos conhecidos transpõem a porta mas não sei bem se sou eu que entro, se são outras pessoas que entram e passam, sorridentes. Não são ninguém. Ou serei eu que não sou ninguém?...
Por hábito, por maneira de estar, por razões que a razão não permite perscrutar, estou normalmente só e às vezes, como agora, se tenho gente por perto, não sinto as presenças… são fantasmas vivos de uma existência morta.
Há ruídos que se parecem com vozes, há ruídos que parecem sorrisos… mas onde estão aqueles que dão origem a estes sons?
Entre as vozes parece que a tua, sorridente e algo irritante, sobressai. Sob uma excitação que não é muito comum (excepto nas ocasiões de que falaste), mostras a tal faceta eufórica de quem está bem nutrido por dentro e por fora… Foi isso! Aliás, não era nenhuma boa nova, porque já o havias explicitado…
O tilintar dos copos, o “trique-traque” dos pratos e dos talheres deixa que perceba que há muita gente na sala… “Quer dizer, estive a fazer tudo isso para essa gente toda!” Estranho. Estou mesmo só. Ninguém é ninguém e tu és menos tu do que alguma vez foste… Pois sempre percebi que eras uma bela marioneta colorida nas mãos de um habilidoso artista de circo…
Mais toques de campainha… mais fantasmas!? Mas que me querem, se estou só e com todos à minha volta, só fico?!...
Não é o facto de ser só, que é triste e por isso o dia 24 de Dezembro, não é o especial dia para estar triste… estar triste é uma componente dos dias todos do ano e dos anos, desde que se começa a perceber que nada tem o significado que se quer mostrar que tenha.
Claro que me recordo da minha avó. Claro que não esqueço os meus pais… claro que não esqueço amigas, especialmente a Manela. Claro que não esqueço os amigos, especialmente o Artur José. Claro que tenho uma raiva imensa por não ter esta gente todo ao pé de mim… mas tudo é o que tem de ser… O Zé, que ocupou um lugar especial, naquele ano trágico… a Isabel, que era de loucos as nossas conversas sobre Antropologia… e todos os que já partiram… não chegam para o lanche… nem para o jantar… nem nunca mais… partiram para que eu ficasse só.
Depois, aparecem algumas “almas penadas”… a fingir que são muito “queridos” mas com o pensamento em outros…. E eu só! (!!!)
Mas nada significa nada, porque o estar só é uma forma de estar, que é o oposto de estar acompanhado… e mais vale só do que mal acompanhado… porque a tua companhia passou a ser um nojo… mesmo no dia 24 de Dezembro…
24.12.07
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3 comentários:
escreveste por mim, algo que eu não teria a coragem de fazer.
que estranha forma de vida....
um xi coraçao do tamanho do mundo
maria de são pedro
Desejo-te um Feliz Natal e um novo Ano
cheio de saúde, paz e amor.
envia-me um email quando quiseres pq fiquei curiosa e queria perguntar-te uma coisa
xi
maria
Merry Christmas Joaninha...wish you a happy holiday season with family and friends and wish you a great new year, a new beginning.
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