
Procurei incessantemente palavras para expressar o que queria dizer. Não encontrei. Não devem existir. Não há palavras para expressar o meu sentir.
Procurei nos olhares, o meu olhar cheio de nada, para te ver, e não consegui… Não passas do nada para onde olho e não tenho palavras para dizer o que calei. Não por não o saber dizer na altura própria. Talvez por vergonha, talvez por ser demasiado tímida, como consequência dos tabus que a educação impunha por aquela época. Talvez por medo de não acreditares.
Agora, no vazio da agonia em que a minha alma vive, olho sem ver e quero dizer o que o pensamento não articula. Toco as tuas cinzas frias e sinto que deixas um estranho calor passar às minhas mãos. Será que agora só tu entendes o que quero transmitir e jamais o dissera antes?
Muitas vezes a dureza das tuas palavras chocaram-me. Muitas vezes deixaste que, com a cabeça no teu colo, chorasse, mas nunca me deste oportunidade para te dizer quanto te amava. Agora percebes este dilema… como ter coragem de o dizer?
Mesmo não encontrando as palavras que procuro, mesmo não te tendo para te olhar, mãe, dá-me a força que preciso para dizer o que sinto. Para dizer que há dentro de mim um rio turbulento saltitando de rocha em rocha e que em cada momento se despenha como uma cascata… Apenas assim são meus sentimentos, que emudecem e calo o que sinto…
E o que sinto, sem as palavras que necessito para o expressar, fica sem sentido e vai morrer dentro do meu peito. Uma frustração sem limites amarrota-me a alma, que num arfar agonizante, se vai esvaindo num estertor exânime…
29.12.06